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De Beirute a Nova York

Qual a relação da Arábia Saudita com o ISIS?

A Arábia Saudita não é aliada do ISIS, também conhecido como Grupo Estado Islâmico ou Daesh. A organização terrorista segue a ideologia wahabita propagada pelo regime saudita e os clérigos do país ao longo das últimas décadas. Mas a aplica para o jihadismo violento e não apenas para as estritas normas da sociedade desta vertente radical do islamismo. Isto é, a Arábia Saudita quer ser aliada dos EUA, mas quer também ter um regime wahabita em casa. O ISIS quer não apenas um regime wahabita como também destruir os EUA, Turquia, Iraque...

Por gustavochacra
Atualização:

 Wahabbismo

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Para ficar mais claro, a Arábia Saudita segue uma vertente ultra radical do islamismo conhecida como wahabismo. Esta é apenas uma entre outras várias correntes do islamismo sunita. Outras são infinitamente mais moderadas. Na wahabita, mulheres, gays e minorias religiosas possuem menos direitos.

Madrassas e Mesquitas

Desde pelo menos a década de 1980, a Arábia Saudita começou a difundir o wahabismo em larga escala pelo mundo através de madrassas e mesquitas. Este processo provocou um aumento no conservadorismo de parcela dos muçulmanos sunitas em outras partes do mundo. Um exemplo claro é Kosovo, que tinha uma sociedade muçulmana quase laica e hoje vê focos de extremismo wahabita antes inexistente no país dos Balcãs.

 Afeganistão e os Mujahideen

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Inicialmente, os sauditas também patrocinaram o jihadismo como vimos no apoio, junto com os EUA, ao Taleban e aos Mujahideen para lutar contra a União Soviética no Afeganistão. Posteriormente, parte dos mujahideen se converteram na Al Qaeda. Na Guerra do Golfo, com a permissão da Arábia Saudita para os americanos usarem bases no país, eles passaram a considerar o regime saudita inimigo.

Al Qaeda

Os sauditas, desde os anos 1990, são inimigos da Al Qaeda e foram alvos de uma série de atentados terroristas. O ISIS, que é derivado da Al Qaeda no Iraque, nunca foi apoiado diretamente pelo regime saudita. Mas o poder em Riad está dividido em uma série de braços de inteligência e militares. Não se pode descartar que uma ou mais destas facções tenham dado apoio ao ISIS.

Guerra da Síria

Na Guerra da Síria, o ISIS nunca foi uma prioridade como inimigo para os sauditas. O foco principal de Riad sempre foi o regime laico de Bashar al Assad, que conta com o apoio do Irã e da Rússia. No Iraque, os sauditas também se preocupam mais com as milícias xiitas pró-Irã e com o governo de Bagdá do que com o ISIS.

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Jeish al Islam

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Isso não significa que a Arábia Saudita tenha apoiado o ISIS contra os aliados do Irã no Oriente Médio. Os sauditas, na verdade, apoiam uma outra organização militar chamada Jeish al Islam, ou Exército do Islã, na Síria. Trata-se também de uma milícia salafista ultra extremista como o ISIS. Mas sua agenda é local, não global. Sua meta é derrubar Assad e instalar um regime wahabita em Damasco, não explodir aeroportos em Bruxelas e Istambul.

Xiitas

Dentro da Arábia Saudita, o ISIS inicialmente vinha se focando apenas em ataques terroristas contra xiitas, assim como faz no Iraque. Isso importunava apenas em parte o regime saudita, que trata os xiitas do país como cidadãos de segunda classe. Mas, agora, o grupo, que tem como ambição futura, embora quase impossível, dominar Mecca, começou a atacar todo o país.

Sauditas no ISIS

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A Arábia Saudita é um dos países que pune com mais rigor membros do ISIS e da Al Qaeda, condenando muitos à morte e submetendo outros à tortura. Há menos membros do ISIS nascidos na Arábia Saudita do que na Tunísia, que é democrática e segue vertente moderada do islamismo, e na França, que é laica. Na Al Qaeda, porém, o número de sauditas era o mais elevado. 15 dos 19 terroristas do 11 de Setembro eram sauditas. E ainda há suspeita de envolvimento de membros do regime, de forma independente, terem ajudado nos atentados.

Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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