Primeiro, sim, pesquisas erram. No entanto, não significam que estejam erradas o tempo todo ou mesmo na maioria das vezes e muitos menos que erram em uma margem gigantesca de 20 pontos. Em segundo lugar, as pesquisas francesas possuem tradição em acertar a ponto de, mesmo em uma eleição equilibrada como a do primeiro turno, os candidatos perdedores aceitaram a derrota mesmo antes da apuração devido aos resultados da boca de urna.
Por último, as pesquisas não erraram nos EUA no âmbito nacional. Previam vitória de Hillary por 3 pontos percentuais na média e ela venceu por 2 pontos percentuais - dentro da margem de erro. Le Pen não tem condições de "ganhar perdendo" como Trump porque o sistema francês é majoritário e não por colégio eleitoral. Para ser eleito, precisa ser o mais votado. E, no Brexit, o movimento pela saída da União Europeia liderou as pesquisas ao longo de grande parte da campanha, havendo uma oscilação a favor da permanência quando uma deputada do "Remain" foi assassinada.
Apesar de todos os dados acima, nada impede que Marine Le Pen seja eleita presidente da França desde que ela reduza a diferença ou mostre uma tendência de crescimento nos próximos dias. As recentes gafes de Macron também podem ajuda-la. Contribuiria ainda um baixo comparecimento às urnas. Doria, na última eleição paulista, e Erundina, nos anos 1980, provam que isso é possível.
Macron não possui uma base tão sólida. Le Pen pode atrair votos da esquerda ao esquecer um pouco seu discurso anti-imigrante e se focar no econômico, associando seu rival à elite da União Européia e aos bancos (Le Pen é de esquerda em economia). Agora, se a diferença se mantiver no patamar atual no dia da eleição, o jovem de 39 anos será presidente da França.
E comecei dizendo "neste ano" será difícil Le Pen ser eleita. Acredito, no entanto, que inevitavelmente no futuro a Frente Nacional chegará ao poder na França. Pode ser com ela ou pode ser com a sua carismática sobrinha. Explicarei em um outro post, a comparando a um partido e a uma figura política latino-americana.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires