Foto do(a) blog

De Beirute a Nova York

Regime de Damasco deixou jornalista brasileiro 4 dias preso na solitária

no twitter @gugachacra

PUBLICIDADE

Por gustavochacra
Atualização:

No início da semana passada, recebi um email do Germano Assad, um amigo brasileiro de origem síria que vive em Damasco e não possui nenhuma relação de parentesco com o governante daquele país, apesar do sobrenome. Jornalista e estudante, ele descrevia na mensagem o agravamento da repressão do regime de Bashar Assad contra os opositores. Ativistas de círculo de conhecidos dele haviam sido presos e, em alguns casos, torturados. Outros, com medo, fugiram para o Líbano.

PUBLICIDADE

Respondi para o Germano, que é leitor assíduo aqui do blog, tomar cuidado e dei uma série de conselhos. Demorou, e a resposta veio dias depois. "Guga, tarde demais... fui preso no domingo", escreveu. "Dois agentes da polícia secreta me tiraram do táxi e me levaram para casa. Eles revistaram tudo, até o banheiro e a cozinha, e fui encaminhado para a delegacia. Sempre simpáticos, falaram que iriam me fazer umas perguntas e me soltariam. Mas chegando lá eu percebi na hora que tinha me dado mal. Tiraram meus cadarços, colocaram todas as minhas coisas em uma mesa e me jogaram na solitária", me disse.

No interrogatório, perguntaram de onde ele me conhecia e também sobre o Marcelo, correspondente da Folha no Oriente Médio, que foi enviado para a Síria cerca de duas semanas antes de mim. Além disso, os agentes sabiam detalhes da vida do Germano. "Alguém muito próximo estava municiando eles", afirmou, sem saber ainda quem pode ter sido o informante.

Ao saber da prisão, o embaixador do Brasil em Damasco, Edgard Casciano, imediatamente intercedeu para conseguir a sua libertação. "Graças a Deus, depois de 5 dias na solitária comendo lavagem com as mãos e ouvindo o povo apanhando na madrugada, o embaixador me salvou", escreveu.

Vejam a que ponto chegou o regime de Damasco. Matou 3.500 pessoas, prendeu e torturou milhares de outras. Nem mesmo um jovem jornalista brasileiro escapou. O Germano, se fosse sírio, talvez estivesse morto. Trata-se de um jornalista e estudante sério, sem nenhuma ligação com atividades armadas ou políticas. Apenas queria ver o que acontecia no país de seus avós e relatar para o mundo. Agora, já está em Paris aguardando o voo para retornar a São Paulo.

Publicidade

Não vou dar mais detalhes porque ele próprio em breve contará a história toda.

Obs. O Germano é um rapaz corajoso e de enorme talento. Espero que ele leve adiante o sonho de escrever o livro sobre a terra dos avós dele. Nenhum repórter brasileiro conhece tão bem a situação da Síria quanto ele

Leiam ainda o blog Radar Global. Acompanhem também a página do Inter do Estadão no Facebook

Comentários islamofóbicos, anti-semitas e anti-árabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes. Os comentários dos leitores não refletem a opinião do jornalista

O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.