Recentemente, ele escreveu em uma revista islâmica um artigo aconselhando os militantes a realizar ataques mais simples, incluindo bombas improvisadas - justamente como ocorreu no fracassado atentado em um avião que aterrissaria em Detroit, nos EUA.
"Previmos que a maior parte dos ataques seria realizada por franquias jihadistas regionais, e não pelo comando da Al-Qaeda", diz uma análise recente da consultoria de risco Eurasia, que acredita que essa tendência continue em 2010.
A descentralização do terror é resultado do uso da tecnologia. O nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab, responsável pelo atentado de Detroit, assistia aos vídeos do clérigo radical americano Anwar al-Awalaki no YouTube. O major Nidal Malik Hasan, que matou 13 pessoas em uma base militar no Texas, trocava e-mails com Awalaki. Ninguém precisou treinar em campos da rede terrorista.
INIMIGOS
O nigeriano Abdulmutallab, de 23 anos, foi universitário em Londres. Filho de um banqueiro , nunca teve problemas financeiros. Como muitos jovens, decidiu estudar árabe no Iêmen, de onde só saiu em dezembro, depois de se reunir com o clérigo Awalaki. Passou por Etiópia, Gana, Nigéria e Holanda até tentar detonar os explosivos escondidos em sua cueca durante o voo.
Dias depois, o médico jordaniano Humam Khalil Abu Mulal al-Balawi, casado com uma jornalista turca e informante dos EUA, se explodiu em uma base americana no Afeganistão, matando sete agentes da CIA.
Os quatro envolvidos nesses três episódios - o atentado de Detroit, o massacre no Texas e o ataque à base da CIA - faziam parte da Al-Qaeda e todos possuíam alguma ligação com os EUA. O nigeriano tinha o visto. O jordaniano era um informante da CIA. O major pertencia ao Exército. O clérigo era cidadão americano.
Apesar de composta por muçulmanos, a organização de Osama bin Laden nunca contou com muita simpatia no mundo islâmico, seja árabe ou não. O Irã, que é persa, sempre considerou a Al-Qaeda um inimigo, especialmente porque Teerã segue a corrente xiita do islamismo, enquanto a rede terrorista é sunita e adota, dentro do sunismo, uma vertente radical denominada wahabismo.
Saddam Hussein, um secular que incluía cristãos em seu governo, também temia o radicalismo religioso da Al-Qaeda. O mesmo valia para Yasser Arafat, casado com uma cristã e assessorado por muitos não-muçulmanos. A Arábia Saudita, apesar de conservadora, preferiu priorizar suas relações com os EUA e entrou em choque com os seguidores de Bin Laden na Guerra do Golfo.
Hoje, a monarquia saudita é a maior inimiga da rede terrorista. Nem mesmo em um país dividido como o Líbano a Al-Qaeda obteve sucesso. Todos os libaneses se uniram, em 2007, na ofensiva do Exército contra o Fatah al-Islam, que havia dominado um campo de refugiados no norte do país. O líder da operação, o general Michel Suleiman, é hoje presidente do Líbano.
FALIDOS
Apenas dois países deram guarida a Bin Laden: Sudão e Afeganistão, ambos nos anos 90. Em outros, como Iêmen, Iraque, Somália e Paquistão, os jihadistas entraram à revelia do governo. "A Al-Qaeda considera países fracos a melhor saída para fixar suas bases. O Iêmen oferece a locação ideal para operar sem interferência externa", disse Bruce Riedel, do Brookings Institution, de Washington.
A maior prova de que a Al-Qaeda procura Estados falidos é que suas tentativas de penetrar no Líbano e na Síria fracassaram. Ocorreram atentados na Jordânia e no Egito, mas a repressão se intensificou. Israel foi alvo de apenas uma ação da Al-Qaeda em sua história - mesmo assim, sem maiores consequências. As tentativas de seguidores de Bin Laden de se infiltrarem na Faixa de Gaza foram repelidas pelo Hamas. Os palestinos dizem que a organização prejudica seu objetivo de criar um país.
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Obs. Reportagem minha publicada na edição impressa do Estadão de domingo (05/01/2010)