Blog - O acordo elaborado por Brasil-Irã-Turquia é sério e terá algum efeito no programa nuclear iraniano?
Abbas Milani - Parece ser apenas mais uma tentativa do regime de Teerã de usar alguns países para ganhar tempo. Antes, o Irã fez o mesmo com a Rússia, a China e até mesmo os europeus. Agora, seria o Brasil e a Turquia. Também precisamos saber o que significam estes 1.200 kg de urânio enriquecido a 5%.
Blog - Agora ficou mais difícil aprovar uma nova resolução com sanções ao Irã?
Milani - Os EUA, seus aliados europeus, a China e a Rússia terão um grande problema. Será muito difícil aprovar sanções agora. E o regime iraniano sabe disso e fez um pacto com a Brasil e a Turquia. Os brasileiros dão legitimidade por serem de fora da região, uma potência emergente, latino-americana. E os turcos por integrarem o mundo islâmico.
Blog - Como o regime iraniano está vendendo o acordo internamente?
Milani - Ahmadinejad e o governo enfrentam inúmeros problemas domésticos. Portanto, estão dizendo que o acordo foi uma vitória, que todos os pontos impostos por eles foram aceitos. Segundo o regime, a comunidade internacional precisou aceitar o acordo nos termos iranianos.
Blog - O objetivo do Irã é ganhar tempo?
Milani - Sim, eles querem ganhar tempo e o acordo serviu para este objetivo. Enquanto isso, podem desenvolver o conhecimento necessário para produzir uma bomba. Mas, que fique claro, eles ainda não tomaram a decisão política de fabricar uma arma nuclear. Para o Irã, este acordo com o Brasil e a Turquia é uma situação "win-win", sendo positiva de qualquer ângulo para eles.
Blog - As sanções adiantariam para frear o programa nuclear iraniano?
Milani - Sempre achei que não. O regime tem como burlar estas sanções. Mas, agora, passei a achar que o regime teme as sanções ao fazer de tudo para impedir a aprovação.
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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios
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