Já escrevi aqui diversas vezes como está a divisão do território hoje na Síria. O regime controla Damasco, Hama e toda a costa Mediterrânea. Homs também permanece com as forças de Assad, embora com confrontos. O mesmo se aplica a Daara, mais perto da fronteira com a Jordânia. Aleppo se transformou em uma cidade dividida. A estrada que liga esta gigantesca metrópole à capital também voltou para as mãos do governo.
Os opositores controlam boa parte da fronteira com a Turquia e o Iraque, além de vilas espalhadas pelo país. Algumas destas áreas estão com curdos, que não são associados aos rebeldes.
Por este motivo, ainda é cedo para se falar em divisão da Síria. Uma vitória de Assad poderia manter a integridade do território, caso ele consiga continuar com os avanços conquistados nos últimos dois meses. Mas, assim como no segundo semestre do ano passado, a oposição pode voltar a se fortalecer e ganhar outras regiões da Síria. Dominaria totalmente Aleppo e rumaria em direção a Damasco, tentando tomar Homs e Hama pelo caminho. Uma outra frente viria a partir de Daara.
Neste caso, provavelmente, o interior da Síria se transformaria em uma terra de ninguém, com líderes feudais, como o comedor de coração. Não existira país. Por outro lado, a costa mediterrânea, nas cidades de Tartus e Latakia, tenderia a ficar com membros do atual regime ou seus simpatizantes. Seria a Síria Mediterrânea, um Estado controlado por alauítas, cristãos e sunitas não religiosos. Uma espécie de Líbano do Norte, com tamanho e problemas similares.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires