A oposição síria é uma colcha de retalhos composta por grupos completamente distintos e com agendas antagônicas. O único ponto em comum entre elas parece ser a defesa da queda de Bashar al Assad.
Quando escutarem a palavra "Exército Livre Sírio", não imaginem um agrupamento militar organizado, com hierarquia de comando e ações coordenadas. Isso não existe. É apenas um nome para tentar dar um pouco mais de credibilidade aos rebeldes.
O general Idris, principal comandante militar do ELS, desfruta de respeito, mas não de autoridade dentro do território sírio. Os membros da coalizão opositora, braço político da oposição no exílio e visto como alternativa a Assad pelo Ocidente, não tem uma coisa nem outra. É totalmente irrelevante dentro da Síria, mesmo nas áreas sob controle dos rebeldes.
Atualmente, o Qatar e a Arábia Saudita são os dois principais responsáveis por armar os opositores, embora grande parte do arsenal dos rebeldes seja de desertores do Exército ou de bases militares capturadas. A monarquia absolutista de Doha opta normalmente por facções ligadas à Irmandade Muçulmana. Os sauditas preferem os salafistas ou, ironicamente, alguns grupos seculares.
A facção armada mais forte da oposição, porém, é a Frente Nusrah, ligada à Al Qaeda. Seus armamentos têm diversas origens, como as milícias sunitas no Iraque e alguns patrocinadores do Golfo Pérsico e do Líbano.
Caso os EUA e os europeus decidam armar os grupos "seculares" da oposição, enfrentarão quatro problemas. Primeiro, como definir estas organizações. Segundo, como evitar que elas repassem armas para terceiros, seja pela venda ou por colaboração. Terceiro, provavelmente parte deste arsenal seria usado em conflitos intra-oposição, e não contra o regime - o que não é necessariamente um grande problema, conforme mostrarei em outro post. E, quarto, qual será o destino destes armamentos no futuro?
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires