Esta diferença é fundamental para entender como pode ser a reação das forças turcas. Afinal, além de uma ideologia, há uma organização por trás destes atentados terroristas que deixaram ao menos 28 mortos. Certamente o governo turco tomará medidas para freá-los.
Em post anterior, lembrei que o ISIS e o PKK, que são inimigos entre si, têm realizado atentados na Turquia. Mas esta ação tem um pouco mais a ver com o modus operandi do ISIS. Ainda assim, é melhor esperar para cravar.
Ressalto, mais uma vez, que o PKK tem uma agenda local nacionalista-étnica curda. O ISIS tem uma agenda global de viés religioso ao seguir uma vertente ultra radical do islamismo sunita. Isto é, o PKK não atacará Paris. O ISIS atacou.
Também disse em post anterior que o governo de Erdogan reatou hoje relações diplomáticas com Israel e voltou a se aproximar da Rússia, com quem andava em atrito. Não creio que haja relação direta com os atentados. Mas estas ações visavam atrair novamente turistas para a Turquia.
De maio de 2015 para maio deste ano, há uma queda de 22% no número total de turistas para a Turquia. No caso da Rússia, de onde vem uma parcela elevada dos visitantes do país, a queda foi de 92%. Israel, no entanto, é um dos raros países que viu o crescimento de turistas para a Turquia no último ano - 40% a mais do que em 2015.
Vale notar também que o aeroporto de Istambul era considerado extremamente seguro. Possivelmente, mais seguro do que quase todos os aeroportos dos EUA e da Europa. Isso aumenta o temor de novos ataques em aeroportos, como o que já ocorreu em Bruxelas. E a ação aparentemente foi no perímetro, e não dentro do aeroporto.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires