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De Beirute a Nova York

Uma explicação blogueira da crise na Grécia (não é tese de PhD)

Sei que é confuso entender o que ocorre na Grécia. Tentarei, neste post, ser o mais didático possível. Notem que não se trata de uma tese de PhD em economia. Meu objetivo será apenas explicar de uma forma simples o que ocorre.

Por gustavochacra
Atualização:

Primeiro, os países possuem duas principais ferramentas para ajustar a sua economia. Política fiscal e política monetária. A primeira se faz por meio do aumento ou corte de gastos e da elevação ou redução de impostos. Já a segunda se faz por meio da taxa de juros com o objetivo de estabilizar a inflação e a taxa de desemprego e da, genericamente falando, injeção ou retirada de dinheiro da economia, podendo valorizar ou desvalorizar a moeda.

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A Grécia, ao integrar o Euro, assim como os demais países do bloco, perdeu a sua capacidade de fazer política monetária. Isto é, os gregos não podem estabelecer suas taxas de juros e tampouco mexer no valor da sua moeda, o que poderia tornar o país mais competitivo no mercado internacional. Para os gregos, sobrou apenas a política fiscal.

Quando a Grécia se viu incapaz de pagar as suas dívidas cerca de cinco anos atrás, o país precisou ajuda da Troika, formada pelo FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia. Em troca da ajuda, eles exigiram que os gregos ajustassem suas contas.

Como os gregos possuem apenas a capacidade de fazer política fiscal, o país teve de fazer duros cortes nos gastos, além de levar adiante uma enorme elevação nos impostos. A economia entrou em depressão. E, cada vez mais, a Troika exigia mais austeridade, em um círculo vicioso. Compare com o Brasil, que também tem feito duros ajustes - no fim das contas, por pior que seja nossa situação, o Brasil tem o poder de desvalorizar o real, aumentando as exportações. Também pode mexer nos juros de acordo com as necessidades do país. Os gregos não possuem este poder sobre a própria economia.

No começo deste ano, cansados de tantos ajustes sem resultados práticos, os gregos elegeram um partido mais à esquerda que prometeu bater de frente com a Troika e conseguir termos melhores para os acordos. Incialmente, a relação foi boa. Mas se deteriorou nas últimas semanas. E, neste fim de semana, o governo grego anunciou que fará um referendo para a população grega decidir se aceita ou não os termos do ajuste.

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Caso não aceite, a Grécia provavelmente terá de sair da zona do euro. Neste caso, adotaria uma nova moeda. Alguns poderão dizer que será bom porque o país poderá voltar a fazer política monetária. Sem dúvida, este seria um benefício. Com a desvalorização da moeda, após um caos inicial, os gregos poderão aumentar suas exportações.

O problema é que existe uma série de efeitos colaterais. Basta ver a Argentina, que passou por processo similar ao deixar o câmbio fixo, quando um peso valia um dólar. O país viveu um caos políticos, com presidentes passando dias no cargo. Até hoje, 15 anos mais tarde, segue fora dos mercados internacionais. E a inflação voltou fortemente. Por outro lado, realmente a economia cresce bem mais hoje do que nos tempos do ajuste. Mas há uma diferença - a Argentina era produtora de commodities e houve um boom dos commodities na década passada. A Grécia tem poucos produtos para exportar.

E por que a Troika não apresenta um plano mais brando para a Grécia? Porque outros países que passaram por problemas similares, embora longe de tão graves, como a Itália, Irlanda e Portugal, poderiam se sentir menos inclinados a manter suas contas ajustadas, imaginando que no último momento, a Alemanha, que comanda a Troika, virá ajuda-los.

E qual a melhor saída? Não há alternativa boa. Talvez, um plano um pouco menos austero, mantendo a Grécia no euro, mas permitindo que a economia grega se reaqueça um pouco, seja a melhor opção.

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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