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De Beirute a Nova York

Você ainda lembra da Guerra da Síria? Quem está ganhando?

A Síria sofre um processo de "iraquização" na mídia. Isto é, aos poucos, as notícias de guerra geram uma fadiga e as pessoas deixam de acompanhar. Mortos em Aleppo passam a ser tão irrelevantes para o resto do mundo quanto mortos em Bagdá ou Cabul. Mas eu acho importante seguirmos monitorando a Guerra da Síria, um dos países mais importantes para a história da humanidade - afinal, São Paulo, maior cidade do Brasil, homenageia um homem que um dia viveu em Damasco. E São Pedro era sírio. Sem falar na questão geopolítica

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Por gustavochacra
Atualização:

Campo Militar

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As forças do regime de Assad, com o apoio do Hezbollah e de milícias síria aliadas (shabiha), além de iranianos e iraquianos, conquistaram a importante cidade de Yabrud, nas montanhas Qalamoun. Desta forma, o regime passou a controlar a maior parte da fronteira sírio-libanesa. Damasco, Homs e Hama estão nas mãos do regime, embora com alguns focos opositores em subúrbios. Latakia e Tartus, na costa mediterrânea, assim como o vale dos cristãos e as montanhas alauítas, seguem ultra leais a Assad

 Aleppo permanece dividida, mas com avanços do regime. O cenário é tão favorável a Assad que uma nova companhia aérea foi criada. O grupo rebelde super radical ISIS controla áreas na fronteira com o Iraque. Curdos tem suas áreas na fronteira turca e iraquiana. A Frente Nusrah está espalhada pelo país. Grupos rebeldes mais laicos atuam especialmente a partir da fronteira com a Jordânia

Campo Político

Assad deve disputar eleições presidenciais. Uma série de regras impostas pelo regime, como viver nos últimos dez anos na Síria, impedem a participação de opositores no exílio. Pode sim haver a participação de uma tradicional oposição em Damasco. Mas Assad certamente será o vencedor - ele é a figura mais popular da Síria, embora também seja a mais odiada

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Armas Químicas

Houve enorme avanço no último mês. O regime de Assad já entregou ou destruiu 52% das armas químicas e promete eliminar tudo (menos de áreas inacessíveis) até meados de abril. O acordo, negociado pela Rússia, foi um sucesso

Apoio externo a favor de Assad

A Rússia deve intensificar o apoio ao líder sírio depois do episódio na Crimeia. Os russos, assim como os iranianos, também avaliam que fizeram a aposta certa, com Assad cada vez mais consolidado no poder e vencendo o conflito. Já o Hezbollah tem pago caro dentro do Líbano com o apoio militar a Assad na Síria. Uma coisa é lutar contra Israel, um inimigo de todos os libaneses. Outra contra os rebeldes sírios, que contam com muita simpatia e o apoio de algumas facções libanesas, especialmente as sunitas

Apoio externo aos rebeldes

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Os grupos rebeldes são extremamente divididos. Os maios fortes são ultra radicais, como a Frente Nusrah, ligada à Al Qaeda, o ISIS, considerado extremista demais até para a rede de Bin Laden. Outros, também conservadores, como o Fronte Islâmico, tem crescido. O apoio é heterogêneo, vindo de diferentes indivíduos no Golfo Pérsico, além dos EUA e outras nações ocidentais. Os americanos se focam apenas em fornecimento de equipamentos não letais, como ambulâncias e telefones por satélite. A Arábia Saudita apoia apenas grupos rebeldes que atuem em sintonia com os Saud e entrou em atrito com o Qatar. A Turquia está dividida, com muitos membros da sociedade turca condenando duramente o premiê Erdogan pelo envolvimento no conflito

Refugiados

Já são 2 milhões de refugiados nos países vizinhos (Líbano, Jordânia e Turquia). Outros milhões são refugiados internos na Síria - a maioria deixando áreas sob controle dos rebeldes e indo para áreas do governo

Mortos

Não há estatística confiável, mas calcula-se que estejam em cerca de 150 mil. Notem que este número inclui os mortos pelo regime e os mortos pelos rebeldes. Isto é, as forças de Assad não mataram todas as vítimas da guerra. E hoje cresce muito o número de mortos em combates intra-oposição

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Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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