Como mostra o Washington Post de hoje, o total de imigrantes ilegais triplicou entre 1990 e 2007. Depois disso, se estabilizou e, posteriormente, se reduziu em 1 milhão na última década. E a maior parte dos imigrantes em situação ilegal nos EUA já vive no país há mais de uma década.
Os imigrantes deixaram de vir, em primeiro lugar, porque a economia americana entrou em crise depois de 2008, se recuperando apenas mais recentemente. O México também oferece melhores oportunidades hoje do que no passado. A fronteira foi dominada por traficantes e coiotes, que exploram os imigrantes, diferentemente do que ocorria nos anos 1990. Por último, o governo Obama deportou mais imigrantes em situação ilegal do que todos os presidentes anteriores somados.
Trump, portanto, compra uma briga desnecessária com o México ao dizer que obrigará os mexicanos a construírem um muro de concreto na fronteira que custará dezenas de bilhões de dólares - algo impossível de ser implementado. Dois ex-presidentes do México, ambos historicamente próximos dos EUA e que iniciaram a guerra contra as drogas (Fox e Calderon), deram entrevistas criticando duramente o pré-candidato republicano.
O México deve ser tratado por um candidato a presidente americano com a mesma deferência com que Israel, Canadá, Japão e Reino Unido são tratados. Trata-se de um aliado histórico dos americanos, membro de uma zona de livre comércio e vizinho.
A maioria absoluta dos imigrantes ilegais quer apenas trabalhar e fazer a América, uma nação construída por imigrantes. Inclusive, dois dos pré-candidatos republicanos são filhos de cubanos (e, um destes dois, nasceu no Canadá).
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires