A informação foi apresentada durante o Quinto Comitê da ONU e revela a dimensão de uma crise já instalada na entidade. Em abril, foi revelado que soldados franceses atuando sob o mandato da ONU em Bangui teriam cometido abusos sexuais contra menores.
Agora, os dados revelam que o problema vai muito além e não se limita a uma operação específica.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, assumiu seu mandato prometendo dar um basta a esses incidentes. Sua política de "tolerância zero", porém, tem dado resultados apenas marginais.
Em 2013, mais de 90 casos foram registrados pelo Escritório de Auditoria Interna da ONU. Um ano depois, os 79 casos não representam um avanço real.
Se os crimes por si só já chocam, vindo de uma entidade que foi criada para estabelecer a paz no mundo e proteger os mais vulneráveis, também choca o fato de que, até hoje, nenhuma informação foi publicada sobre quantos foram punidos e quantos estão cumprindo anos nas cadeias.
A única medida confirmada por enquanto pela ONU foi a suspensão, ao final de abril, de um funcionário, Anders Kompass, que teria violado regras internas e vazado o informe sobre os abusos pelos soldados franceses em Bangui. Na semana passada, porém, a decisão da ONU foi considerada como "ilegal" por um tribunal dentro da própria entidade e Kompass foi autorizado a voltar a trabalhar.
Ainda assim, a transparência que a ONU receita para governos pelo mundo simplesmente não vale quando os crimes são cometidos por representantes da organização. Há mais de uma semana peço aos porta-vozes da ONU a lista de quantas pessoas foram punidas em dez anos por abusos sexuais.
Tenho a impressão de que jamais vou receber essa informação.