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Direto da Europa

Bahrein: do Bolsa Família à Louis Vuitton

GENEBRA - Enquanto manifestantes no Bahrein eram reprimidos nos últimos dias pelas forças de ordem e a ONU declarava que até cem pessoas haviam desaparecido nos últimos dias, o governo do pequeno país no Golfo Pérsico fazia um esforço diplomático para se explicar e montar uma campanha de sedução da opinião pública mundial. A monarquia mandou à ONU, em Genebra, sua superministra , Fatima Al Balooshi, responsável pelas pastas de Saúde, Assuntos Sociais e Direitos Humanos. Enquanto tentava convencer a ONU e jornalistas internacionais de que seu país estava passando por um golpe, e não uma revolução popular, a ministra distribuia sorrisos e a impressão de que a população não tinha do que se queixar. « Somos o único país do Oriente Médio que já cumpriu as metas do Milênio de redução de pobreza », argumentava. 

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Por jamilchade
Atualização:

Ela, pelo menos, não tinha do que se queixar. Enquanto conversava, levava orgulhosamente sua bolsa Louis Vuitton que, claro, ia combinando com a carteira da mesma marca. Nada mal como imagem para a ministra de Assuntos Sociais de um país em ebulição. Entre as propostas paea acalmar a população está a introdução de um Bolsa Família. Mais inexplicável ainda eram suas respostas às acusações de que seu governo massacra a oposição, fato comprovado e condenado pela ONU. Eis os principais trechos da entrevista que me concedeu na sede da ONU:

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P - A ONUacusou o seu governo de violações de direitos humanos e apontou para o desaparecimento de até cem pessoas nos últimos dias. Porque o seu governo vem tomando essas medidas diante de manifestantes que pedem reformas ?

R - Fui cobrar da ONU de onde tiraram essas informações. Nada disso ocorreu. O que vimos é que foram alguns dos manifestantes que iniciaram a violência. Usavam paus, facas e até espadas contra nossos policiais. Ainda levaram crianças para as ruas para aumentar o número de manifestantes. Nosso país é um local pacífico e as pessoas ficaram assustadas com tudo isso. Atacaram ambulâncias e até hospitais. Até agora, temos 243 policiais feridos por conta das manifestações e apenas 53 feridos entre os manifestantes.

P - Como é que, diante da acusações de uso da força pelo seu governo, a sra. aponta que há mais policiais feridos que manifestantes ? Deve ser um caso único no mundo hoje.

R - Quando as manifestações começaram, o mundo inteiro se voltou contra o Bahrein por conta da forma de respondemos. Então a decisão foi a de demonstrar que, se não usássemos força, a esperança era de que os manifestantes também não o fariam. Mas foi exatamente o contrário que ocorreu. Vendo que não havia controle, os manifestantes deixaram de ter limites.

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P - Mas há acusações de que policiais chegaram a invadir hospitais para espancar manifestantes já atingidos, enquanto recusavam a entrada de novos feridos.

R - Não é nada disso. Eram os manifestantes que ocuparam os hospitais. Encontramos até armas lá.

P - Mas qual o número de mortos até agora?

R - São 19. Onze deles manifestantes, mas também quatro policiais, dois estrangeiros e dois civis.

R - Se a situação é tão boa no país, porque há então manifestações?

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P - Pediam uma melhor vida e salários melhores. Oferecemos diálogo. Mas não aceitaram. Pode parecer que o Bahrein é parte da onda de revoluções que atingiu o Oriente Médio. Mas o Bahrein é diferente. Não é uma ditadura. Temos a melhor em educação e saúde do Oriente Médio. O que ocorre é que os líderes da violência tem uma agenda externa. Eles torturam e não representam povo de Bahrein.

P - A Arábia Saudita mandou soldados ao Bahrain. Foram voces quem pediram?

R - Sim, para proteger locais estratégicos.

P - Proteger contra quem ?

R - Temos informações de que essa manifestação não é apenas algo espotâneo. Temos indícios claros do envolvimento de atores estrangeiros, como o Hezbollah e um país vizinho. Deram armas e treinamento.

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P - Qual país?

R - Um país vizinho.

P - Porque não se pode dizer o nome ? A sra. insinua que seria o Irã ?

R - Só posso dizer que é um país vizinho.

P - Críticos do regime alegam que um dos problemas é que, num país de maioria xiita, é uma família real sunita quem comanda. Isso é um problema ?

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R - Somos uma democracia. O Parlamento é eleito e quase metade dele é compost de xiitas. Por tanto, não aceito esse argumento. Temos 19 igrejas cristãs no país, somos uma sociedade multicultural.

P - O que voces estão pensando em fazer para frear a pressão social por uma melhor vida no país?

R - Uma das propostas que estamos avaliando é justamente o que voces estabeleceram com sucesso no Brasil, que é a transferência de recursos, no mesmo estilo do Bolsa Família. Estamos avaliando como implementar essa experiência aqui.

P - A opção da monarquia desaparecer pode ser uma solução ?

R - Ninguém está pedindo isso.

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