Ela, pelo menos, não tinha do que se queixar. Enquanto conversava, levava orgulhosamente sua bolsa Louis Vuitton que, claro, ia combinando com a carteira da mesma marca. Nada mal como imagem para a ministra de Assuntos Sociais de um país em ebulição. Entre as propostas paea acalmar a população está a introdução de um Bolsa Família. Mais inexplicável ainda eram suas respostas às acusações de que seu governo massacra a oposição, fato comprovado e condenado pela ONU. Eis os principais trechos da entrevista que me concedeu na sede da ONU:
P - A ONUacusou o seu governo de violações de direitos humanos e apontou para o desaparecimento de até cem pessoas nos últimos dias. Porque o seu governo vem tomando essas medidas diante de manifestantes que pedem reformas ?
R - Fui cobrar da ONU de onde tiraram essas informações. Nada disso ocorreu. O que vimos é que foram alguns dos manifestantes que iniciaram a violência. Usavam paus, facas e até espadas contra nossos policiais. Ainda levaram crianças para as ruas para aumentar o número de manifestantes. Nosso país é um local pacífico e as pessoas ficaram assustadas com tudo isso. Atacaram ambulâncias e até hospitais. Até agora, temos 243 policiais feridos por conta das manifestações e apenas 53 feridos entre os manifestantes.
P - Como é que, diante da acusações de uso da força pelo seu governo, a sra. aponta que há mais policiais feridos que manifestantes ? Deve ser um caso único no mundo hoje.
R - Quando as manifestações começaram, o mundo inteiro se voltou contra o Bahrein por conta da forma de respondemos. Então a decisão foi a de demonstrar que, se não usássemos força, a esperança era de que os manifestantes também não o fariam. Mas foi exatamente o contrário que ocorreu. Vendo que não havia controle, os manifestantes deixaram de ter limites.
P - Mas há acusações de que policiais chegaram a invadir hospitais para espancar manifestantes já atingidos, enquanto recusavam a entrada de novos feridos.
R - Não é nada disso. Eram os manifestantes que ocuparam os hospitais. Encontramos até armas lá.
P - Mas qual o número de mortos até agora?
R - São 19. Onze deles manifestantes, mas também quatro policiais, dois estrangeiros e dois civis.
R - Se a situação é tão boa no país, porque há então manifestações?
P - Pediam uma melhor vida e salários melhores. Oferecemos diálogo. Mas não aceitaram. Pode parecer que o Bahrein é parte da onda de revoluções que atingiu o Oriente Médio. Mas o Bahrein é diferente. Não é uma ditadura. Temos a melhor em educação e saúde do Oriente Médio. O que ocorre é que os líderes da violência tem uma agenda externa. Eles torturam e não representam povo de Bahrein.
P - A Arábia Saudita mandou soldados ao Bahrain. Foram voces quem pediram?
R - Sim, para proteger locais estratégicos.
P - Proteger contra quem ?
R - Temos informações de que essa manifestação não é apenas algo espotâneo. Temos indícios claros do envolvimento de atores estrangeiros, como o Hezbollah e um país vizinho. Deram armas e treinamento.
P - Qual país?
R - Um país vizinho.
P - Porque não se pode dizer o nome ? A sra. insinua que seria o Irã ?
R - Só posso dizer que é um país vizinho.
P - Críticos do regime alegam que um dos problemas é que, num país de maioria xiita, é uma família real sunita quem comanda. Isso é um problema ?
R - Somos uma democracia. O Parlamento é eleito e quase metade dele é compost de xiitas. Por tanto, não aceito esse argumento. Temos 19 igrejas cristãs no país, somos uma sociedade multicultural.
P - O que voces estão pensando em fazer para frear a pressão social por uma melhor vida no país?
R - Uma das propostas que estamos avaliando é justamente o que voces estabeleceram com sucesso no Brasil, que é a transferência de recursos, no mesmo estilo do Bolsa Família. Estamos avaliando como implementar essa experiência aqui.
P - A opção da monarquia desaparecer pode ser uma solução ?
R - Ninguém está pedindo isso.