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Direto da Europa

CHELSEA GANHOU. MAS É A ALEMANHA QUE AMEAÇA

 

Por jamilchade
Atualização:

 

No sábado, o Chelsea quebrou um tabu e venceu pela primeira vez a Liga dos Campeões, batendo o Bayern de Munique, na casa do time da Baviera. Mas não há espaço para ilusões. É com o futebol alemão que qualquer torcedor de fora da Alemanha precisa se preocupar.

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Enquanto o futebol europeu é o retrato da crise no continente e está sendo tomados por severas dívidas, a Alemanha é o retrato de um esporte em boa forma, em campo e fora dele. Na Inglaterra, os clubes somam uma dívida de US$ 4,4 bilhões. Na Espanha, são outros US$ 4,6 bilhões, dos quais US$ 500 milhões se referem apenas ao Barcelona. Na Alemanha, dos 36 clubes profissionais, 33 tem lucros.

Sem alarde e com planejamento, investimentos em times de base e uma renovação importante na seleção tem permitido a injeção de um novo oxigênio ao já competitivo futebol alemão. A seleção chega à Eurocopa no próximo mês como favorita e, para muitos, será a equipe mais forte para 2014 no Brasil.

O pilar dessa estratégia está na gestão do esporte. Nos jornais alemães, não há históricas de compras milionárias de clubes por magnatas russos ou príncipe árabes. As transações de jogadores jamais batem recorde. "As regras estabelecidas impedem que os clubes atuem como adolescentes que roubaram o cartão de crédito do papai", afirmou um funcionário da Bundesliga, ao Estado.

Outra regra: clubes precisam abrir suas contas a cada ano para inspetores da Bundesliga e provar que, para a próxima temporada, terão liquidez suficiente e que terminarão o ano com um saldo positivo. Quem não cumprir essa regra simplesmente não participa no ano seguinte da liga. Outra punição pode ser a retirada de pontos, como ocorreu como o Arminia Bielefeld por conta de irregularidades em seu orçamento.

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Essas regras fazem parte de uma verdadeira constituição de 200 páginas que estabelece exatamente como o futebol de ser administrado. Muitos atribuem o sucesso à regra de ouro que foi implementada na Bundesliga há uma década e dá sinais e funcionar. Todos os clubes são de propriedade de seus torcedores, que mantem 51% das ações do time. Há casos que escapam à regra. O Wolfsburg é de propriedae da Volkswagen e o Bayer Leverkusen da indústria de remédios Bayer. Ainda assim, ambos são da comunidade.

Não por acaso, o sucesso nas arquibancadas é total. O futebol alemão tem a maior média de público do mundo, com 98% dos estádios lotados a cada rodada da Bundesliga. A média de público chega a 41 mil por jogo, contra 35 mil na Inglaterra e 28 mil na Espanha.

"Poderiamos ter a entrada de investidores sérios em alguns clubes", explicou o CEO da Bundesliga, Christian Seifert. "Mas a opção que fizemos é por ter uma liga inteira forte", disse. "Um investidor com muito dinheiro pode ser algo positivo para um clube, mas não necessariamente para o campeonato", explicou.

O CEO insiste que o resultado tem sido uma maior competitividade do torneio. Nos últimos dez anos, cino clubes festejaram o título alemão. Na Espanha, em oito anos, apenas o Real Madrid e o Barcelona venceram, e com ampla diferença em relação aos demais.

A força dos clubes ficou claro em uma série de rodadas logo no início da temporada. O Borussia de Monchengladbach bateu o Bayer Leverkusen por 6 a 3. No jogo seguinte, levou um chocolate de 4 x 0 do Eintracht Frankfurt e uma surra de 7 a 0 do Stuttgart. Duas rodadas depois, foi o Stuttgart que perdeu de 4 a 1 para o Leverkusen. Isso tudo enquanto potências como o Schalke 04 e o Bayern de Munique despencavam na tabela. Para torcedores, isso é sinônimo de emoção pura a cada rodada.

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O resultado é uma liga que da lucros recorde a cada ano. Na temporada 2010-2011, o superávit foi de US$ 250 milhões, quase o dobro da espanhola.

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Base - Se financeiramente a equação está resolvida, grande parte do sucesso vem dos investimentos em equipes de base, seja nos clubes como na seleção. O técnico do time nacional, Joachim Löw, recebeu da Federação de Futebol um mandato de dez anos para renovar o futebol, com amplos investimentos em jovens, uma pressão calculada e uma estabilidade financeira.

Não houve, como ocorre na França ou Itália, uma rejeição em construir uma seleção com a cara da nova nação alemã, multiétnica, de várias cores e religiões. Muito pelo contrário. Um estudo conduzido pela Federação local chegou à conclusão que havia um afastamento dos torcedores em relação à seleção por conta da atitude vista como arrogante da geração de Matthaus, Oliver Kahn e Michel Ballack. A federação passou a estimular que "alemães" como Mesut Ozil, Sami Khedira ou Marko Marin trouxessem para estádios os torcedores de suas etnias e religiões. O resultado foi a transformação do grupo em uma seleção que se identifica com a sociedade alemã e que seja um espelho dela.

Em 2010, a federação alemã ainda não teve vergonha em anunciar que o objetivo não seria vencer o Mundial da África do Sul, mas sim começar um trabalho de renovação que daria seus frutos quatro ou oito anos depois. Colocou em campo Ozil, Thomas Muller e um terço do time com menos de 23 anos.

Sem pressão, o time surpreendeu. Muller, que dois anos antes estava atuando na terceira divisão, acabaria o Mundial como artilheiro. A seleção chegou até a semi-final e talvez só perdeu para a Espanha por conta da ausência de alguns de seus craques em campo naquele dia, como o próprio Muller.

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Para a Eurocopa, em junho, a seleção chega como a grande favorita, inclusive com maiores credenciais que a própria campeã Espanha. E nem por isso a renovação será abandonada. Em campos estará a nova geração, com Marco Reus e Mario Götze e Kroos, sempre pensando em 2014 no Brasil.

"A seleção alemã hoje é a maior forte e consistente do mundo",afirmou a este blog o ex-astro do Bayern, Elber. "Na Eurocopa, chegará com muita bala na agulha e numa situação melhor que a da Espanha", disse. "Estão voando baixo, com uma nova geração cheia de energia e que quer ser campeã", declarou o brasileiro que fez sua carreira na Alemanha.

Para 2014 no Mundial no Brasil, Elber deixa claro que os alemães desembarcarão para levar a Copa do Mundo. "Quem quiser ser campeão em 2014 terá de estar pronto para superar a Alemanha. Será a equipe a ser superada",apontou. "Os alemães se colocam uma meta, fazem um planejamento e o implementam, sem que nada possa afetar isso. Por isso é que os resultados chegam", avaliou.

Na Uefa, o presidente Michel Platini e técnicos não hesitam em apontar o futebol alemão como o exemplo para o continente. "O futebol alemão é hoje um modelo de virtude financeira, de boa administração e que resulta em títulos", apontou Simon Chadwick, economista da Universidade de Coventry, na Inglaterra.

Há alguns anos, o inglês Gary Lineker cunhou uma frase que ficaria celebre no esporte. "O futebol é um jogo de onze contra onze, no qual o vencedor é sempre a Alemanha". Na Alemanha, administradores do futebol e jogadores rebatem: no futebol, a bola não entra por acaso, mesmo que não saiam vencedores em todas as finais, como ficou claro pela cara de Merkel.

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