GENEBRA - As suspeitas de corrupção nas obras dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro tem deixado muita gente preocupada entre os organizadores do evento. Mas, no Comitê Olímpico Internacional (COI) em Lausanne, a regra é a de adotar um silêncio absoluto e ensurdecedor diante do caso.
No início da semana, a Justiça Federal mandou suspender os repasses da Caixa Econômica Federal (CEF) ao consórcio responsável pela área norte do Complexo Esportivo de Deodoro e, faltando 128 dias para o início da Olimpíada do Rio de Janeiro, as obras correm o risco de ser interrompidas. A suspensão dos pagamentos atendeu a um pedido da Controladoria Geral da União (CGU) e do Ministério Público Federal (MPF), que suspeitam de fraude na documentação apresentada pelas construtoras Queiroz Galvão e OAS, parceiras no consórcio.
Questionado pela reportagem na terça-feira, o COI se limitou a dizer que as informações ainda não estavam oficialmente confirmadas.
Um dia depois, já com a Justiça confirmando a decisão, voltei a questionar o COI e ainda apontei para as suspeitas de que as empreiteiras e suas obras também passaram a ser alvos da Operação Lava Jato. Mas, uma vez mais, a resposta foi permeada por hipocrisia e a tentativa de se afastar de qualquer envolvimento.
Na semana passada, emails da Odebrecht obtidos pela PF indicaram o que poderia ser um pagamento de uma suposta propina de R$ 1 milhão a um projeto no Rio ligado às obras dos Jogos. A polícia também encontrou cinco pagamentos relacionados com o desenvolvimento da nova linha de metrô que vai atender ao evento do COI.
Voltei a questionar sobre as atuais suspeitas. Mas o COI deixou claro que, por enquanto, não pedirá uma nova auditoria, não fará novas exigências de transparência e transfere a pergunta às autoridades cariocas. Quase como se o evento não fosse dele.
« Entendemos que estamos no início de um processo e que nenhuma decisão formal foi tomada », disse o COI em um comunicado à reportagem. « Seria prematuro falar sobre esse assunto e, portanto, sugerimos que procura a prefeitura do Rio de Janeiro nessa primeira instância », completou.
Já em dezembro de 2015, quando eu questionei Thomas Bach, o presidente do COI, se ele iria pedir auditorias nas contas das obras no Rio diante do envolvimento das construtoras nos escândalos da Lava Jato, ele apenas indicou que « confiava nas autoridades brasileiras » e que não via motivos para duvidar.
Confiando ou não na Odebrecht, OAS ou Eduardo Paes, a realidade é que o silêncio do COI revela que a entidade olímpica não cumpre as suas próprias promessas: a de exigir Jogos transparentes.
No dia 26 de fevereiro, falando durante as eleições da Fifa, Bach fez um discurso em que praticamente dava uma aula para os cartolas do futebol sobre a boa gestão do esporte. "É nossa responsabilidade compartilhada dar novas respostas a novas perguntas", disse, apontando para uma mudança no mundo.
Pena que ele achava que essa mudança se aplicaria apenas aos eventos da Fifa.