Jamil Chade
15 de junho de 2014 | 10h39
RIO – Depois de 64 anos, o Maracanã volta hoje a receber um jogo de Copa do Mundo. Mas, num estádio radicalmente diferente daquele que recebeu a final de 1950, o local é um reflexo de seu tempo e de seus desafios.
A última vez que o Maracanã recebeu um jogo de Copa, seu palco entrou para a mitologia da bola. A derrota do Brasil para o Uruguai na final marcou a história dos Mundiais e do próprio país.
Quando a Argentina e a Bósnia entrarem em campo hoje, estarão em um lugar profundamente diferente. O novo estádio é o espelho de novos padrões e das exigências da Fifa, além de um modelo de exploração comercial.
João Borba, presidente da Odebrecht e que tem a concessão para administrar o estádio, revelou que o futebol por si só não pagará pela aplicação. “Doze anos serão necessários, segundo ele, para retorno de investimentos. “Será muito necessário que os eventos não fique só com o futebol”, declarou.
Em 2010, a previsão era de um custo de R$ 705 milhões. Hoje, o valor já supera a marca de R$ 1,2 bilhão. Desde a inauguração do novo Maracanã, 90 jogos foram disputados, com mais de 2 milhões de pessoas. Mais de cem eventos foram realizados.
A Odebrecht enfrenta o mesmo desafio de atrair outros eventos nos outros dois estádios que passou a administrar, como a Arena Fonte Nova, em Salvador. O campeonato baiano tem uma média de público de apenas 2,6 mil pessoas por partida. Mesmo no Rio, a média não chega sequer a 3 mil. A Odebrecht ainda cedeu os direitos de nomeação do estádio à Itaipava para também arrecadar.
Outra diferença entre o Maracanã de 1950 e 2014 é seu aspecto ambiental. Ontem, a empresa que o administra anunciou que recebeu uma certificação ambiental, com um alimentação de energia 9% vindo de fontes renováveis.
Além disso, reservatórios foram criados para coletar a água da chuva que, depois é reaproveitada nos banheiros e mesmo na grama. “Isso significa uma redução de 50% na água potável usada”, disse Borba. A coleta de resíduos ainda permitiu 7 toneladas de lixo reutilizado.
A tecnologia também está espalhada por todos os lados. 34 câmeras, uma grama cuidada em laboratórios e até a tecnologia para identificar se a bola cruzou ou não a linha do gol.
Se em 1950 o estádio abrigou o maior público da história, hoje ele é o centro de uma audiência global.
O que não muda é a emoção que o estádio promete trazer e sua capacidade de ser um mito no futebol. O Brasil apenas utilizará o estádio se chegar à final. Mas, uma vez mais, o local será uma caixa de ressonância de uma sociedade, seja qual for o resultado.
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