Lei foi estabelecida em 1979 e Fifa aposta que novo governo moderado poderia reconsiderar a proibição
GENEBRA - O novo presidente moderado do Irã, Hassan Rohani, está disposto a negociar um acordo nuclear e até manteve o primeiro contato com um presidente americano em mais de 30 anos. Mas será que está disposto a romper outro tabu? Nesta semana, em meio às negociações nucleares entre s potências mundiais e o Irã, Rohani recebeu a Fifa e escutou da entidade um apelo: permita que as mulheres também possam ir aos estádio de futebol.
O esporte é o mais popular no país e as equipes femininas não são poucas. Mas o governo não permite que se misture homens e mulheres num estádio. O motivo oficial é a preocupação do governo com a segurança das mulheres. Mas, ainda assim, o Irã é um dos poucos países no mundo que continua a impedir a entrada de mulheres nas arquibancadas, uma lei estabelecida em 1979 durante a Revolução Islâmica e que ainda está em vigor.
Nesta semana, Rohani recebeu o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e deixou claro que seu país quer receber a Copa da Ásia de 2019. Mas isso não poderia acontecer se as regras atuais fossem mantidas.
A visita de Blatter ajudou a deixar claro que pouco poderá ser feito para inserir o Irã no roteiro das grandes competições se a lei sobre as mulheres não for abolida. O Catar também adotava a mesma norma. Mas garantiu que isso acabará até 2022, quando vai sediar a Copa do Mundo.
"O governo deve tentar mudar uma de seus leis culturais", indicou Blatter. Segundo ele, o presidente do Parlamento, Ali Larijani, garantiu que iria avaliar o assunto. "Eu não posso intervir. Mas como presidente da Fifa e defensor do futebol em países islâmicos, eu precisa apresentar meu apelo".
Em 2012, ainda sob o regime de Mahmoud Ahmadinejad, as autoridades iranianas ampliaram as proibições e estabeleceram que nem mesmo jogos dos campeonatos europeus mostrados em telões pela cidade poderiam ter a presença de mulheres.
"Homens, enquanto assistem ao futebol, ficam excitados, usam palavras julgares e fazem piadas sujas", justificou na época o vice-chefe da polícia, Bahman Kargar.
O tema promete ganhar novo impulso nos próximos meses diante da classificação do Irã para a Copa de 2014 no Brasil.
Em 2006, um filme sobre o assunto - "Offside", de Jafar Panahi - contava a história de garotas loucas pelo futebol e que arriscavam tudo para ver uma partida. Se o Irã até hoje não foi campeão em praticamente nada no futebol, pelo menos o filme foi amplamente premiado por revelar as violações que as mulheres ainda sofrem no país para serem tratadas sem discriminação.