"Teremos entrevistas com todos os atores de interesse e não excluímos entrevistar o presidente da Fifa e seu secretário-geral", declarou Lauber nesta quarta-feira.
Segundo ele, no total 104 relações bancárias foram encontradas relativas ao escândalo e mais de 53 casos suspeitos de lavagem de dinheiro foram informados pelos bancos suíços depois que a crise eclodiu às agências de controle financeiro. Contas já foram bloqueadas e uma série de evidências financeiras foram colhidas, envolvendo milhões de dólares. Nem todas as contas tem relação com as escolhas das sedes. Mas, ainda assim, foram identificadas como suspeitas e com indícios de lavagem de dinheiro.
No dia 27 de maio, à pedido da Justiça americana, os suíços prenderam sete dirigentes em Zurique, entre eles José Maria Marin. Mas o MP suíço também lançou uma operação para confiscar milhares de documentos na Fifa e em empresas relacionadas com o caso. Uma delas é a Kentaro, agência que organizou entre 2006 e 2012 todos os amistosos da seleção brasileira.
Segundo os suíços, o alvo da investigação é a suposta compra de votos para a escolha das Copas de 2018 e 2022. Entre os suspeitos está Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e que votou pelo Catar para sediar o evento. O brasileiro garantiu na semana passada que nunca recebeu dinheiro por seu voto. Mas o Estado revelou com exclusividade que a Justiça o investiga no que se refere a uma conta em Monaco e que teria registrado pagamentos vindos de empresas do Golfo.
Segundo Lauber, um total de 9 terabites de documentos e servidores foram confiscados, o que seria equivalente a mais de 600 milhões de páginas de word.
"Até agora, nossa equipe identificou 104 relações bancárias, o que significa mais de uma conta em cada uma dessas relações", disse Lauber. "Isso representa muitas contas bancarias e temos muitos documentos a processar", insistiu. "Por enquanto, estamos avaliando os dados abertos dos bancos", disse.
Lauber indicou que criou um grupo de trabalho para avaliar as contas, com especialistas em crime financeiro, procuradores e especialistas da polícia. Nos últimos anos, a Fifa se transformou em uma potencia econômica, com mais de US$ 1,5 bilhão em fundos e movimentando a cada Copa do Mundo mais de US$ 5 bilhões.
"Os bancos cumpriram seu dever de alertar sobre as suspeitas. No total, mais de 53 transações financeiras foram identificadas pelo mecanismo de combate à lavagem de dinheiro", disse.
O MP insiste em não dar informações extras sobre os suspeitos e sobre as contas, alertando que existe o "risco de perda de evidências". "Não vou colocar nada em risco", alertou.
Nos EUA, o Departamento de Justiça havia apontado para um esquema que envolveu US$ 150 milhões. Os suíços, porém, evitam falar em números por enquanto.
Cúpula - Blatter insiste que não está implicado no escândalo e que foi ele quem, em novembro de 2014, entrou evidências para a Justiça. Mas, desde a eclosão do escândalo, ele decidiu ficar na Suíça e abandonou a ideia de viajar aos torneios da entidade, como o Mundial Sub-20 ou a Copa do Mundo de Futebol Feminino.
Lauber, agora, alerta que não existe qualquer garantia de que Blatter será preservado. "Esse processo pode ir a qualquer direção. Não sabemos ainda para onde irá", declarou.
Segundo ele, "por enquanto a Fifa é parte interessada". Mas ele não exclui nenhuma possibilidade. "Essa investigação pode mudar e talvez o foco pode mudar", disse.
O MP não exclui ouvir e interrogar nem o presidente da Fifa nem seu secretario-geral. "Teremos entrevista de todas as pessoas interessadas. Não excluímos entrevistar Joseph Blatter e Jerome Valcke. Começamos com dez pessoas e estamos nesse processo. Mas podemos adicionar novos atores", indicou.
Mas o MP pede que o "mundo do futebol tenha paciência". "Estamos no começo da investigação. É uma investigação em aberto", insistiu Lauber.
O suíço prometeu "acelerar o processo". "Mas vai levar tempo. O mundo do futebol terá de ter paciência. Vai levar mais de 90 minutos", brincou.
Há uma semana, o auditor da Fifa, Domenico Scala, indicou que eventuais provas sobre compra de votos poderiam forçar a Fifa a anular a escolha da Rússia ou de Catar para as próximas Copas.
Questionado se haveria uma conclusão antes da Copa de 2018 na Rússia, Lauber ignorou o calendário. "Não me importa o calendário da Fifa. Talvez tenha impacto colateral. Mas o que eu preciso fazer é meu trabalho", indicou.