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Direto da Europa

Lula: imprensa já condenou envolvidos no Mensalão à prisão perpétua

GENEBRA - Luiz Inácio Lula da Silva critica imprensa, parte do PT e aponta que a onda de protesto no Brasil é "sã". Numa longa entrevista publicada hoje pelo jornal espanhol El País, o ex-presidente deixa claro ainda que não é candidato a nada e que irá trabalhar para a reeleição de Dilma Rousseff em 2014. Eis os principais trechos da entrevista:

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Por jamilchade
Atualização:

Eleição - Sobre política, Lula garante que não volta a ser candidato. "Não, não, não. Só tenho vontade de sobreviver. Fui operado de um câncer e Graças a Deus me recuperei e trabalhei muito, diria até que mais que quando era presidente" disse. "O que eu quero de fato tentar, através de meu instituto, é contribuir para o desenvolvimento da América Latina e África".

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Para 2014, ele é contundente: "Eu tenho minha candidata, que é Dilma, e vou trabalhar para ela".

Protestos - Lula também insiste em apontar a onda de protestos vivida no Brasil é "sã". "Um povo com fome não tem disposição para a luta. Quando 40 milhões de pessoas entraram na classe média, quando em 2007 existiam 48 milhões de pessoas que podiam viajar de avião e em 2013 esse dado aumentou para 103 milhões, um país que produzia 1,5 milhão de carros e agora 3,8 milhões...", apontou.

"Em 2016 o Brasil será a quinta economia do mundo, produzindo uma sociedade que quer mais. É natural", declarou. "A sociedade descobriu que é possível aspirar a mais. Em dez anos conseguimos mais do que no século XX e isso desperta na sociedade o fato de querer mais. Temos que enaltecer a participação democrática e não permitir que os jovens reneguem a política. Quando isso ocorre, vem o fascismo", disse. "Queremos que os jovens discutam abertamente para que sintam que fora dela não há caminho".

PT - Questionado sobre a reação do PT, Lula indicou que o partido precisa de renovação e lembrar suas origens. "O PT cumpriu 33 anos de vida. Quando se chega a isso, quem começou com 35 anos precisamos dar espaço para uma nova geração. Este é um partido que foi criado pelos trabalhadores e dirigidos por eles", disse.

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"As pessoas tentem a esquecer os tempos difíceis que resultava carregar pedras. Nós acreditávamos. Era maravilhoso. Um mais ideológico, a gente trabalhava grátis, de manhã, tarde e noite. Agora, você vai fazer uma campanha e todo mundo quer cobrar. Não quero voltar às origens, mas gostaríamos que não nos esquecemos para que fomos criados. Por que queríamos chegar ao governo? Não para fazer o que os outros fazem. Mas para atuar de maneira diferente".

Mensalão x Imprensa - Lula ainda respondeu sobre as acusações de corrupção e o Mensalão. "O que eu digo aos companheiros é que só há uma forma de não ser investigado neste país: não cometer erros. Duvido que exista no mundo uma nação com a quantidade de fiscalizações que tem o Brasil. 90% das denúncias que se apresentam são feitas de dentro do próprio governo. Contratamos policiais, reforçamos os serviços secretos, fortalecemos o controle das contas do Estado... Quanto maior a transparência, melhor", disse.

"O que não pode se admitir é que depois que uma pessoa se submete a um processo e não se descobre nada, ninguém peça desculpas. Por isso me preocupam as condenações a priori. No caso dos companheiros do PT, já foram previamente condenados. Alguns meios de comunicação fizeram isso, independente do julgamento, inclusive à prisão perpétua. Alguns nem podem sair às ruas. Eu insisto, temos de ser 150% corretos porque se nos equivocamos em 1%, aos olhos de nossos adversários e de determinados meios de comunicação, nos levarão a 1000%. As vezes me queixo, mas me parece bem o controle", admitiu.

Lula adota uma distância em relação aos demais líderes latino-americanos e seus conflitos com os meios de comunicação. Mas defende "mudanças de leis".

"Eu sou um democrata", insiste Lula. "Defendo a liberdade de imprensa. Sou o resultado disso. A imprensa brasileira nunca falou bem de mim, mas nunca me importou. Nunca pedi favores, nem os peço. Quem julga a imprensa são os leitores, o público. Mas em alguns países latino-americanos devemos adaptar as leis aos tempos que vivemos. No Brasil são nove as famílias que controlam os meios de comunicação. O que mudou um pouco o panorama é a Internet. Não se tratar de entrar no conteúdo, obviamente, mas democratizar, ampliar o acesso", declarou.

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