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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A defesa da liberdade não pode excluir os autoritários

Tenho visto manifestações nas redes sociais de pessoas rompendo relações com seguidores do Jair Bolsonaro, como, um tempo atrás, tinha visto outras rompendo com seguidores do PT. Como alguém que já viu a democracia morrer em alguns países, o sectarismo e a guerra eclodirem em outros, gostaria de fazer um alerta aqui: a ruptura do diálogo interessa a quem não tem argumentos.

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Atualização:

É muito fácil ser arrastado para uma postura sectária, sem sequer se dar conta disso. O argumento parece simples e coerente: não vou ser tolerante com o intolerante. Não vou dialogar com quem quer suprimir o diálogo, ao flertar com a ditadura. Acontece que a liberdade é um princípio inegociável. Só nela o melhor argumento, a compreensão mais madura de mundo, pode vencer.

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Fora da liberdade e do diálogo, o que existe é a lei da força bruta. É um objetivo, mais ou menos elaborado, dos autoritários, arrastar os liberais para uma posição autoritária. Essa é a vitória deles. A força do liberalismo está em confiar na democracia a ponto de permitir que os autoritários se manifestem amplamente, livremente. Confiar que o argumento de quem entende de economia, de quem defende a liberdade, é mais forte. E, para que ele seja, é preciso não desistir da tolerância.

É preciso ser coerente e colocar em prática os valores da democracia, da liberdade política e econômica, no nível do comportamento, das relações interpessoais. Eu sei que isso não é fácil. Também tive a minha parcela pessoal de dano causado pela má gestão do PT. Também tenho receio do instinto autoritário e violento do Bolsonaro e de seus seguidores.

Por isso mesmo, não podemos esquecer que estamos defendendo a liberdade, incluindo daqueles que querem suprimir a nossa. Isso é se manter forte e coerente. Ceder nesse princípio é ceder a vitória aos autoritários.

Se alguém cometer um crime, como a incitação à violência, que seja submetido às leis e à Justiça. Mas a opinião, por mais nefasta e estapafúrdia, não é um crime. Pelo menos não enquanto estivermos numa democracia.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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