É muito fácil ser arrastado para uma postura sectária, sem sequer se dar conta disso. O argumento parece simples e coerente: não vou ser tolerante com o intolerante. Não vou dialogar com quem quer suprimir o diálogo, ao flertar com a ditadura. Acontece que a liberdade é um princípio inegociável. Só nela o melhor argumento, a compreensão mais madura de mundo, pode vencer.
Fora da liberdade e do diálogo, o que existe é a lei da força bruta. É um objetivo, mais ou menos elaborado, dos autoritários, arrastar os liberais para uma posição autoritária. Essa é a vitória deles. A força do liberalismo está em confiar na democracia a ponto de permitir que os autoritários se manifestem amplamente, livremente. Confiar que o argumento de quem entende de economia, de quem defende a liberdade, é mais forte. E, para que ele seja, é preciso não desistir da tolerância.
É preciso ser coerente e colocar em prática os valores da democracia, da liberdade política e econômica, no nível do comportamento, das relações interpessoais. Eu sei que isso não é fácil. Também tive a minha parcela pessoal de dano causado pela má gestão do PT. Também tenho receio do instinto autoritário e violento do Bolsonaro e de seus seguidores.
Por isso mesmo, não podemos esquecer que estamos defendendo a liberdade, incluindo daqueles que querem suprimir a nossa. Isso é se manter forte e coerente. Ceder nesse princípio é ceder a vitória aos autoritários.
Se alguém cometer um crime, como a incitação à violência, que seja submetido às leis e à Justiça. Mas a opinião, por mais nefasta e estapafúrdia, não é um crime. Pelo menos não enquanto estivermos numa democracia.