Duas coisas aconteceram nesses cinco dias: o presidente Donald Trump anunciou novas sanções contra o Irã e a população está nas ruas exigindo a renúncia do líder espiritual Ali Khamenei, por causa da derrubada do avião por um míssil iraniano disparado acidentalmente, que matou 176 pessoas na quarta-feira.
A onda de ataques iniciada pelo Irã em junho, que derrubou dois drones americanos, atingiu petroleiros da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Noruega, um campo de petróleo e refinaria sauditas em setembro, e finalmente uma base no Iraque em dezembro, desencadeando a escalada, teve como objetivo exatamente elevar o custo das sanções americanas, que abala fortemente a economia iraniana e, com ela, a sustentabilidade do regime.
Mas o Irã aparentemente havia decidido retomar os ataques mais adiante, uma vez passado o risco de uma guerra, que também poria fim ao regime. Além disso, o ataque deste domingo, que só atingiu iraquianos, corre o risco de prejudicar as relações com o Iraque, importante aliado regional. E enfraquecer a justificativa para a expulsão das tropas americanas pelo Iraque, aprovada pelo Parlamento iraquiano no domingo, 5.
Daí que as manifestações em Teerã e em outras cidades iranianas, violentamente reprimidas pelas forças de segurança, devem ser a motivação mais importante para o novo ataque: desviar a atenção, manter a tensão com os EUA no topo da agenda e assim buscar dar legitimidade à repressão, diante da ameaça externa.