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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Acuado por sanções e protestos, Irã volta a atacar

Depois do ataque da noite de terça-feira, 7, contra duas bases americanas no Iraque, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, declarou que as "medidas" de "autodefesa" estavam "concluídas", confirmando a análise, minha e de outros, de que o regime não desejava uma escalada. Então, por que o novo ataque deste domingo com oito foguetes contra uma base americana no Iraque, que deixou quatro militares iraquianos feridos?

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Atualização:

Duas coisas aconteceram nesses cinco dias: o presidente Donald Trump anunciou novas sanções contra o Irã e a população está nas ruas exigindo a renúncia do líder espiritual Ali Khamenei, por causa da derrubada do avião por um míssil iraniano disparado acidentalmente, que matou 176 pessoas na quarta-feira.

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A onda de ataques iniciada pelo Irã em junho, que derrubou dois drones americanos, atingiu petroleiros da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Noruega, um campo de petróleo e refinaria sauditas em setembro, e finalmente uma base no Iraque em dezembro, desencadeando a escalada, teve como objetivo exatamente elevar o custo das sanções americanas, que abala fortemente a economia iraniana e, com ela, a sustentabilidade do regime.

Mas o Irã aparentemente havia decidido retomar os ataques mais adiante, uma vez passado o risco de uma guerra, que também poria fim ao regime. Além disso, o ataque deste domingo, que só atingiu iraquianos, corre o risco de prejudicar as relações com o Iraque, importante aliado regional. E enfraquecer a justificativa para a expulsão das tropas americanas pelo Iraque, aprovada pelo Parlamento iraquiano no domingo, 5.

Daí que as manifestações em Teerã e em outras cidades iranianas, violentamente reprimidas pelas forças de segurança, devem ser a motivação mais importante para o novo ataque: desviar a atenção, manter a tensão com os EUA no topo da agenda e assim buscar dar legitimidade à repressão, diante da ameaça externa.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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