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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Atirador frequentava boate e site gay, sofreu bullying e festejou o 11 de setembro

Omar Mateen, que matou 49 pessoas em uma boate gay em Orlando na madrugada de domingo, frequentava o local e mantinha um perfil em um site de relacionamentos gay. Vítima de intenso bullying na escola, ele festejou os atentados de 11 de setembro, foi parar na diretoria por causa disso e acabou levando um tapa na cara de seu pai, na frente dos colegas.

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Atualização:

Essas revelações estão em reportagem do jornal The Washington Post, que entrevistou frequentadores da boate e ex-colegas de Mateen.

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Kevin West, um veterano da Marinha de 37 anos, disse que estava no estacionamento da boate Pulse à 1 hora da madrugada de domingo quando reconheceu Omar Mateen entrando. Ele afirmou ter visto Mateen muitas vezes na boate antes. Os dois haviam se conhecido um ano atrás, quando Mateen procurou West pelo site de relacionamentos Jack'd, dedicado a homens. Os dois deixaram de se falar por um tempo. Há três meses, Mateen procurou West novamente, dizendo que em breve estaria em Orlando e o convidando para um drink.

Cord Cedeno, de 23 anos, outro frequentador da Pulse, confirmou ter visto Mateen antes na boate, bebendo no balcão do bar. Cedeno também havia sido procurado por Mateen um ano atrás, por meio do site de relacionamentos. Ele disse que Mateen mantinha sua foto visível para o público no seu perfil no site.

O motorista Justin Delancy, que dirigiu o ônibus escolar usado por Mateen durante vários anos, contou ao jornal que "ele era brutalmente objeto de bullying" dos colegas. Os meninos tiravam sarro de Mateen por ser gordinho e também por parecer diferente, porque era um dos únicos garotos descendentes de um país como o Afeganistão. O motorista contou que, em algumas das manhãs, os meninos não o deixavam sentar do seu lado, e às vezes davam tapas na sua nuca. Ele tentava brincar e dar risada, fazer piada de si mesmo, mas isso também não funcionava, lembra o motorista.

Mateen, que estava agora com 29 anos, tinha 14 quando ocorreram os atentados de 11 de setembro de 2001. Quatro colegas ouvidos pelo jornal disseram que ele ficou feliz e fez piada quando viu os aviões se chocarem contra as Torres Gêmeas, depois que a professora ligou a TV na sala de aula para assistirem o que estava se passando.

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Um dos colegas contou que Mateen se levantou depois que viram a segunda torre ser atingida e disse que Osama bin Laden era seu tio e o havia ensinado a dar tiros com fuzis AK-47. Ninguém sabia direito quem era Bin Laden, naquele momento.

Os alunos ficaram revoltados e queriam agredi-lo, então a professora o mandou para a diretoria. Um dos colegas lembra do pai dele, o afegão Seddiqe Mateen, vindo para buscá-lo depois desse incidente. Seddiqe chegou e deu um tapa na cara de seu filho, na frente dos colegas, no pátio da escola.

Um dos ex-colegas, Robert Zirkle, disse que, depois dos atentados, viu Mateen no ônibus animado, imitando o barulho de um avião e fazendo de conta que ele se chocava contra um edifício.

Mateen estudava na época na escola Spectrum, dedicada a crianças com problemas de comportamento, em Stuart, na Flórida. Diferentemente de suas três irmãs, ele não tinha muitos amigos. De acordo com vizinhos, a família era "totalmente americana", as mulheres não usavam o véu e ninguém demonstrava ser muito religioso ou conservador. Kenneth Winstanley, que estudou com Mateen durante cinco anos, no fim do ciclo fundamental e no ensino médio, estranhou que ele tivesse festejado os atentados de 11 de setembro: "Eu sei que Omar gostava da América. Ele explicou a religião muçulmana para mim. Ele não lidava com isso de forma louca. Era apenas algumas das coisas relacionadas com a cultura dele, como a comida. Não havia nada de Islã radical".

A aparente ambivalência de Mateen com relação a sua sexualidade, as humilhações que sofreu e a forma como reagiu tentando se agarrar a algo que lhe desse força e valor sugerem que a doutrina, o moralismo e o radicalismo religioso servem apenas de meio para expressar uma agressividade armazenada ao longo de muito tempo. A fuga de uma dor insuportável, por meio da dor do outro.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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