Embora tenha largado na frente no primeiro turno, Keiko pode ser derrotada no segundo, por seu alto índice de rejeição (45%, segundo o Instituto Ipsos), associado à imagem do pai, Alberto Fujimori, que governou entre 1990 e 2000, e está preso há 11 anos, acusado de violações dos direitos humanos. Fujimori, que promoveu um "autogolpe" em 1994, fechando o Congresso e o Judiário para governar com plenos poderes, foi envolvido também em escândalos de corrupção.
Seja como for, não há diferenças substanciais nas propostas econômicas de Keiko, derrotada na última eleição presidencial, em 2011, e que liderou a oposição ao presidente Ollanta Humala, e de PPK, ex-economista do Banco Mundial e ex-ministro da Economia. A eleição tanto de um quanto do outro deve levar a medidas para atrair os investimentos na indústria da mineração, a principal fonte de receita do país, prejudicados por bloqueios promovidos por sindicatos, com o apoio de Humala, um populista de esquerda.
Keiko tem a vantagem de ter obtido maioria no Parlamento unicameral: seu partido Força Popular conquistou 68 das 130 cadeiras. Mas uma eventual eleição de PPK provavelmente geraria menos tensões sociais, embora a preferida dos camponeses e mineiros fosse Verónika. Mobilizados nos chamados movimentos populares, eles nutrem aversão dor Keiko, por causa de medidas adotadas por seu pai, como a privatização, a repressão violenta ao grupo maoísta Sendero Luminoso e esterilizações forçadas de mulheres. PPK, ex-economista do Banco Mundial, por sua vez, foi ministro da Economia do ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006), cujo governo foi execrado pelos camponeses e mineiros por causa de privatizações de serviços públicos. Nunca há um caminho fácil para reformas liberais na América do Sul.
A economia peruana, dependente das exportações de minérios, pescados e produtos agrícolas, foi abalada pela queda nos preços das commodities nos últimos anos. O crescimento do PIB caiu de 5,8% em 2013 para 2,1% em 2014 e 2,8% em 2015. Embora não seja populista como Humala, e não tenha sido apoiada por ele, Verónika pode ter sido mais uma baixa das esquerdas sul-americanas frente à crise econômica causada pela queda dos preços das commodities.
A perda de fôlego do populismo de esquerda já se refletiu na derrota do kirchnerismo e eleição de Mauricio Macri na Argentina, na vitória do "não" em um referendo para permitir mais uma reeleição do presidente boliviano Evo Morales, no triunfo da oposição nas eleições para a Assembleia Nacional venezuelana e no movimento em favor do impeachment no Brasil.