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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|'Esperamos que Brasil defenda democracia', diz ex-presidente boliviano

Jorge Quiroga, ex-presidente da Bolívia, me falou sobre os abusos contra os direitos democráticos em seu país e na Venezuela, e sobre a responsabilidade do Brasil.

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"Essas violações foram permitidas na  Venezuela, na Bolívia e em outros países com o olhar complacente, contemporizador e quase cúmplice do Brasil", disse o ex-presidente. "Ser o irmão mais velho e o maior país implica responsabilidades, e entre elas a defesa da democracia, consignada na  Carta da OEA (Organização dos Estados Americanos), em protocolos da Unasul, em documentos do Mercosul. E o Brasil, lamentavelmente, olhou para o outro lado quando se davam essas violações. Foi enormemente frustrante que familiares de presos políticos venezuelanos tenham sido recebidos nas chancelarias da Espanha, do México, do Paraguai, mas não na do Brasil. Foi frustrante também ver que na Bolívia centenas de nossos compatriotas estava no asilo -- um senador que ficou 15 meses na Embaixada do Brasil (em La Paz) nunca recebeu salvo-conduto e o governo do Brasil olhava para o outro lado. Internamente o Brasil precisa resolver seus problemas políticos e econômicos, mas esperamos que o governo do Brasil, como irmão mais velho, defenda a democracia, a liberdade e o direito de pensar diferente em outros países da região, como Venezuela e Bolívia".

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Quiroga disse também que há uma oposição "viável" para enfrentar o candidato apoiado pelo presidente Evo Morales, na eleição de 2018. Morales governa a Bolívia desde 2006. Eleito em dezembro de 2005, reeleito em 2009 e em 2014, foi derrotado em um referendo em fevereiro e não poderá se candidatar de novo. "O problema é que a oposição está sendo agressivamente perseguida. Há centenas de asilados e exilados. Todos os que estamos dentro que pensamos diferente somos alvo de protestos. Um senador da oposição que criticou o governo foi condenado a dois anos por não ter a caderneta de reservista militar." Isso quando o próprio vice-presidente, Álvaro García Linera, não está em dia com o serviço militar obrigatório, afirma Quiroga.

O ex-presidente falou também do resultado do referendo -- 51,3% votaram  contra o direito de Morales e García se candidatarem à quarta eleição e 48,7%, a favor. Segundo ele, a diferença foi bem maior, mas há fraude na votação na zona rural.

Quiroga veio ao Brasil a convite da Fundação iFHC.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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