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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Huawei: Reino Unido e Brasil rechaçam pressões de Trump

A importância estratégica da Huawei na próxima geração das telecomunicações e da indústria levou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ao seu primeiro confronto com o presidente americano, Donald Trump. O movimento lembra o do Brasil, que também já deixou claro que não vai ceder às pressões dos Estados Unidos para impedir a entrada da gigante chinesa, líder mundial da tecnologia 5G.

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Atualização:

Uma delegação americana liderada pelo vice-conselheiro de Segurança Nacional, Matt Pottinger, entregou nessa segunda-feira a altos funcionários britânicos um dossiê questionando a avaliação do serviço de inteligência do Reino Unido de que adotar equipamento da Huawei não comprometeria a segurança do país.

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Johnson, que tem trocado apoios com Trump desde o plebiscito do Brexit em 2016, cuja campanha ele liderou, passando pela eleição presidencial americana naquele mesmo ano e as eleições britânicas no mês passado, rechaçou as pressões do presidente americano.

Em entrevista à BBC, Johnson declarou: "A população britânica merece ter acesso à melhor tecnologia. Queremos instalar banda larga de gigabytes para todo mundo. Agora, se alguém se opõe a uma ou outra marca, tem de nos dizer qual a alternativa."

O governo britânico deve decidir ainda este mês se veta ou não a entrada de alguma empresa na concorrência para fornecer partes consideradas não-essenciais na rede de 5G britânica. A empresa americana mais avançada nessa tecnologia é a Qualcomm. Mas, assim como a finlandesa Nokia e a sueca Ericsson, que também concorrem nessa faixa, ela está atrás da Huawei.

A pressão americana é grande. O ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, disse ao jornal Sunday Times que Trump e seus assessores ameaçaram cortar o acesso do país a dados de inteligência americanos se o Conselho de Segurança Nacional britânico permitir a entrada da Huawei. Os EUA argumentam que a empresa chinesa aproveitaria sua participação nas redes para espionar os países. A Huawei tem respondido que não tem ligação com o governo chinês, e não está a serviço dele.

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O presidente Jair Bolsonaro, que buscou uma identificação e proximidade com Trump, também tem sido pressionado desde o início de seu mandato pelo presidente americano a não deixar a Huawei entrar. A resposta de seu governo foi semelhante.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse, em entrevista à agência de notícias Bloomberg, publicada no dia 8, que o Brasil não vai ceder às pressões americanas. "Um bom parceiro sempre entende as necessidades do outro", declarou o ex-astronauta. "Assim como o Brasil não faz exigências sobre quais negócios os EUA fazem com a China, e se afetam ou não nosso agronegócio".

O governo brasileiro também deve decidir este ano se barra ou não a compra de equipamentos da Huawei pelas empresas de telefonia que disputarão os leilões da frequência 5G. A empresa chinesa já está presente no País há 21 anos, e nas redes das operadoras desde a frequência 2G até a 4.5G.

Outros parceiros dos EUA, como a Coreia do Sul, também têm se esquivado das pressões do governo americano, que identifica a Huawei como a materialização do desafio chinês à hegemonia americana. A sul-coreana LGUPlus usa equipamentos da Huawei em estações-base, para os quais, por sinal, empresas sul-coreanas forneceram componentes.

A Coreia do Sul foi o primeiro país do mundo a transmitir em 5G, no dia 1.º de dezembro de 2018, cerca de 11 horas antes que os EUA. "Antes do lançamento do 5G, o governo verificou o status de segurança, e só começamos o serviço depois de comprovar que não havia riscos para a segurança", me disse em junho do ano passado em Seul o diretor de Tecnologia da Informação e da Comunicação no Ministério da Ciência, Park Tae Wan. "Continuamos monitorando."

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Os EUA, também. Naquele mesmo dia, Meng Wanzhou, vice-presidente diretora financeira da Huawei e filha do CEO da empresa, Ren Zhengfei, foi presa no Canadá, por causa de um pedido de extradição dos EUA, que a acusam de ter participado da violação de sanções contra o Irã.

A Justiça canadense vai iniciar agora as audiências sobre o caso dela. Em jogo também estarão as pressões americanas e a decisão sobre deixar ou não a Huawei entrar no país.

 

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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