EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Incidente em chegada de Obama expõe nacionalismo chinês

Uma controvérsia em torno do desembarque do presidente Barack Obama, no sábado, para a cúpula do G-20, em Hangzhou, serviu para mostrar como andam os ânimos nacionalistas de ambas as partes, principalmente do lado chinês.

PUBLICIDADE

Foto do author Lourival Sant'Anna
Atualização:

Inicialmente, as autoridades chinesas haviam autorizado o uso de uma escada portátil da porta da frente do Air Force One, o avião presidencial americano. Na última hora, informaram que a descida teria de ser feita por uma escada rebocada do aeroporto. Os tripulantes e agentes secretos americanos concordaram. Entretanto, não conseguiram se comunicar com o funcionário chinês que vinha rebocando a escada, e pediram sua substituição por alguém que falasse inglês. Os chineses recusaram.

PUBLICIDADE

Obama então desceu pela porta central, por uma pequena escada portátil do avião, fora do tapete vermelho. A mudança causou corre-corre na pista, com funcionários chineses passando na frente dos cinegrafistas e fotógrafos americanos que cobriam a chegada do presidente, para evitar que eles registrassem aquela cena constrangedora.

Um funcionário chinês gritou para um funcionário da Casa Branca: "Este é nosso país, este é nosso aeroporto". A frase foi gravada por um celular e postada nas redes sociais chinesas, e viralizou na China. O Departamento de Segurança Pública chinês postou a frase em seu perfil no Weibo, equivalente do Twitter, que é bloqueado na China: "Este é nosso país. É, isso é bem China", com a imagem de Obama descendo pela escada apertada.

A história rendeu uma enxurrada de postagens antiamericanas e nacionalistas dos chineses, enquanto parte da imprensa americana interpretava a falta da escada e do tapete vermelho como um ato de esnobamento de Obama por parte do presidente chinês, Xi Jinping. Não foi o que aconteceu. Mas as reações mostram o grau de nervosismo entre os dois países, que em alguns momentos lembra a guerra fria.

A competição entre os dois países se explicitou com o lançamento, em fevereiro, da Parceria do Transpacífico, liderada pelos Estados Unidos, que inclui as principais economias banhados por esse oceano, com exceção da China. Ao falar dessa iniciativa, Obama declarou, em outubro do ano passado: "Quando mais de 95% de nossos clientes potenciais vivem fora de nossas fronteiras, não podemos deixar países como a China escrever as regras da economia global. Nós devemos escrever essas regras, abrindo novos mercados para produtos americanos enquanto estabelecemos altos padrões para a proteção de trabalhadores e a preservação de nosso ambiente".

Publicidade

Xi Jinping, de sua parte, tem elevado um pouco o tom nacionalista de seu discurso, e adotado uma política agressiva de projeção do país sobre os mares do Sul e do Leste da China, provocando tensões com aliados dos Estados Unidos, como o Japão, as Filipinas, a Austrália e o Vietnã. Tudo isso e muito mais estavam latentes, na disputa em torno da escada.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.