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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Mundo grande

Caro(a) leitor(a)

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Atualização:

Nas duas últimas décadas e meia, andei por 60 países -- e por cada canto remoto do Brasil. Tem sido uma busca solitária e insana, de saciar a insaciável curiosidade, de transmitir a experiência inexprimível. Quem, para mim, melhor a definiu foi Drummond: "Tu sabes como é grande o mundo. Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão. Viste as diferentes cores dos homens, as diferentes dores dos homens. Sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso num só peito de homem... sem que ele estale".

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Pois é. Em geral viajei sozinho. Não por auto-suficiência, mas para poder contemplar sem interferências os mistérios desse mundo. Fisicamente sozinho, porque afetivamente eu estava com você, meu companheiro de viagem imaginário. Meu leitor, ouvinte, espectador. A história manda, costumo dizer, e dita como será contada: se por escrito, pelo som, pela imagem do instante ou em movimento. Claro, não sou poeta, apenas um repórter.

Este blog é um convite para novas viagens -- embaladas na lembrança de todas as outras, que trazemos na mochila. Viagem. É estranho, porque essa palavra perdeu o sentido que antes tinha para mim. Antes de viajar tanto, eu achava que a viagem era como um intervalo na vida. Hoje, a viagem é a minha vida. O mundo é o meu lugar.

Falando do nosso lugar, o Brasil vive um momento inquietante. Alguma coisa se rompeu no nosso tecido, na nossa teia. A comunicação truncou, como numa chamada de celular numa estrada distante. Não conseguimos mais ouvir nem ser ouvidos pelos outros. Eu poderia, aqui, gritar minhas queixas. Mas isso só me separaria de você ou, na melhor das hipóteses, nos uniria no silêncio sepulcral da concordância automática -- a paz dos cemitérios. Eu acho que viver não é isso. Sem inquietude e mistério, a vida se torna um fardo. Quem sabe o mundo grande tem algo a dizer para o Brasil? E vice-versa?

Tudo isso para falar que precisarei que me diga quando eu não for claro, simples ou coerente. Habermas escreveu que o índice da objetividade é a intersubjetividade. E Da Vinci, que não existe sofisticação maior que a simplicidade. Então, quando eu não for claro e simples o suficiente, puxe a minha orelha, que eu voltarei do mundo das abstrações para o mundo real.

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Obrigado por aceitar vir comigo.

Um abraço

Lourival Sant'Anna

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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