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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Secretários de Defesa resistiram a ordens de retirada de Trump

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Atualização:

Uma vez derrotado, o presidente Donald Trump está repassando sua lista de promessas e objetivos não cumpridos para "ticar" o maior número possível nesses dois meses de governo que lhe restam. A retirada das tropas do Afeganistão e do Iraque é uma delas. Para isso, ele precisou remover dois secretários de Defesa que resistiam a essa medida.

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O general James Mattis renunciou em dezembro de 2018 por discordar da ordem de retirada do Afeganistão e da Síria. Ele explicou na carta de demissão que a força dos Estados Unidos está vinculada ao sistema de alianças que o país construiu, e é preciso cumprir os compromissos com essas aliados. Na Síria, os curdos  foram abandonados à própria sorte sob ameaça da Turquia e do regime de Bashar Assad, ao qual se aliaram imediatamente. No Afeganistão, o governo enfrenta o Taleban, a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, e 7 mil militares da Otan estão lá também.

O substituto de Mattis, Mark Esper, empresário e lobista da área de defesa, concordava com a ideia da retirada, mas dizia que não havia ainda condições para isso no terreno, que uma retirada prematura colocava em risco os militares americanos que ficassem para trás e os governos aliados desses países.

Esper pediu demissão no dia 9. Outros três diretores do Pentágono se demitiram no dia seguinte. Esse não foi o único foco de atrito. Esper demonstrou publicamente seu desconforto por ter aparecido ao lado de Trump caminhando do jardim da Casa Branca para a Igreja St. John, em junho, enquanto os militares eram usados para, literalmente, empurrar da praça adjacente os manifestantes contra o racismo e a violência policial.

Ao anunciar a retirada nesta terça-feira, o coronel da reserva Christopher Miller, secretário de Defesa interino, não se mostrou muito disposto a defender publicamente a medida. Ele fez um pronunciamento e se retirou sem responder às perguntas dos repórteres, mesma atitude do assessor de segurança nacional, Robert O'Brien. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnel, fiel defensor do presidente, não escondeu sua discordância da retirada, nas vésperas da mudança de governo.

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Até o dia 15 de janeiro (cinco dias antes da posse de Biden), nos dois países o efetivo deve ser reduzido para 2.500 soldados cada. No Afeganistão o número de soldados já diminuiu de 8 mil em agosto para 4.500 atualmente. No Iraque são 3 mil. Então devem voltar para casa 2.500 soldados. Também devem ser retirados os 700 militares americanos que estão na Somália.

Trump vai deixando fatos consumados no terreno de Biden.

 

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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