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Adolescente narra jornada da Síria à Alemanha em uma cadeira de rodas

Jovem conta em livro que seu tio dirigiu a embarcação da travessia utilizando noções que aprendeu no YouTube, enquanto ela precisou enfrentar muitos passageiros que queriam se desfazer de sua cadeira

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Por Redação Internacional
Atualização:

Dois mil quilômetros em uma cadeira de rodas. Nujeen Mustafa, 17 anos, viajou entre Alepo e Alemanha e, durante o percurso, ajudou outros refugiados usando o inglês que aprendeu assistindo a uma novela americana.

A jovem síria nunca evitou desafios. E agora, que vive em segurança em Colônia, decidiu fixar um novo objetivo: provar que a chanceler alemã, Angela Merkel, tinha razão ao abrir as portas de seu país aos refugiados em 2015, ano em que 890 mil migrantes chegaram ao país.

A adolescente síria Nujeen Mustafa espera conseguir asilo na Alemanha. Foto: Daniel Roland/AFP

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"Vamos fazer o máximo possível para provar a todo o mundo que a Alemanha tinha razão desde o início", disse, em uma entrevista por Skype, do apartamento que compartilha com suas duas irmãs.

Sua história é tão extraordinária que a adolescente paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora do Nobel da Paz, disse que a considera uma fonte de inspiração.

"Ela disse que sou sua heroína, o que é um pouco estranho para mim, porque foi ela quem mostrou que as meninas podem mudar o mundo", comentou Nujeen.

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A jovem síria, que sofre paralisia cerebral, contou em um livro de memórias escrito com a jornalista britânica Christina Lamb seu difícil périplo pela Europa em uma cadeira de rodas.

A obra, apresentada nesta quinta-feira, 20, na Feira do Livro de Frankfurt, é uma tentativa de dar um rosto à onda de refugiados que chegou à Europa.

"As pessoas pensam na crise síria como algo que acontece muito longe delas e da qual não deveriam se importar", lamentou. "Espero que (este livro) tenha um impacto, ainda que seja em apenas para uma pessoa", expressou.

O livro, intitulado simplesmente Nujeen, começa com o relato dos primeiros dias da guerra e conta a escalada da violência, que terminou com a decisão de sua família de fugir do país.

"Perdoe-me, Síria", disse a menina ao cruzar a fronteira com a Turquia. Seus pais, que são muito idosos para a viagem, ficaram para trás e deixaram que Nujeen e suas irmãs seguissem a viagem até a Alemanha.

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A adolescente contou no texto a viagem apavorante de barco até a Grécia. Seu tio dirigiu a embarcação utilizando noções que aprendeu no YouTube, enquanto a jovem precisou enfrentar muitos passageiros que queriam se desfazer de sua cadeira.

Uma vez em terra, precisou enfrentar os traficantes mal-intencionados, os campos de refugiados superpovoados e as fronteiras fechadas.

Mas também vivenciou momentos de solidariedade, como quando muitos migrantes a ajudaram a avançar levando a cadeira de rodas.

Para a jovem, que saía pouco de seu apartamento em Alepo, este périplo de um mês representou, apesar de tudo, uma aventura.

"Pela primeira vez" se sentiu útil, já que o inglês que aprendeu assistindo à novela Days of our life foi muito útil.

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Entrevistada por vários jornalistas durante a viagem, tornou-se uma espécie de estrela, que surpreendeu os repórteres com seu sonho de ser astronauta.

Desde que chegou à Alemanha, em setembro de 2015, Nujeen vai à escola, pela primeira vez fez amigos e começou a jogar basquete.

Num momento em que aumenta a desconfiança em relação aos refugiados na Alemanha, Nujeen disse que esse clima não mudou sua opinião sobre os alemães.

"Entendo por que algumas pessoas podem estar assustadas", disse. Os refugiados deveriam "compreender isso e respeitar a cultura e o modo de vida dos alemães. Somos convidados e devemos causar uma boa impressão".

Se pudesse se reunir com a chanceler Angela Merkel, aproveitaria para agradecer a ela por sua política de acolhida.

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"Vamos mostrar ao mundo inteiro que o resultado dessa política será bom, que pode ficar orgulhosa e dizer 'eu tinha razão'", afirmou.

Nujeen espera com impaciência a resposta ao seu pedido de asilo, ansiosa para poder ir visitar, finalmente, seus pais. / AFP

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