Foto do(a) blog

O blog da Internacional do Estadão

"Agro-imperialismo"?

Agricultor trabalha em fazenda em Kwale, Quênia. Foto: Joseph Okanga/Reuters

PUBLICIDADE

Foto do author Robson Morelli
Por Robson Morelli
Atualização:

O botânico Americano Robert Zeigler foi até a Arábia Saudita em março deste ano para uma realizar uma série de discussões sobre o futuro da produção de alimentos do reino. Autoridades sauditas estavam preocupadas com a demanda crescente das importações, já que o preço dos produtos, como o arroz e o trigo, oscilaram violentamente nos mercados nos últimos três anos. O país, rico em petróleo e pobre em terras cultiváveis, procura  por uma estratégia para garantir alimento para a população. Existem basicamente duas soluções possíveis: inventar meios de multiplicar os já existentes ou encontrar novos locais para agricultura - como a África.

PUBLICIDADE

Segundo o jornal americano The New York Times, Zeigler é responsável pelo Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz, que trabalha para aprimorar as sementes. Durante a Revolução Verde, que multiplicou a produção de arroz na década de 1960, a organização desenvolveu o "arroz milagroso". Ao chegar no reino, o botânico descobriu que o país não queria encontrar meios de aumentar a sua produção, mas investir bilhões em plantações em países africanos como Mali, Senegal, Sudão e Etiópia. A África, o continente mais faminto do planeta, não é capaz nem de produzir alimento para sua população, mas sim para investidores estrangeiros.

Uma série de fatores - alguns transitórios como a variação no aumento dos preços de produtos alimentícios, e outros como o crescimento da população mundial e a escassez de água - criaram um grande mercado de terras para cultivo, recurso valioso para nações no Oriente Médio, Ásia e outras regiões do mundo em que a agricultura é barata e abundante. Como quase 90% das terras cultiváveis do mundo já está em uso, se não considerarmos florestas e ecossistemas frágeis, a única área disponível para desenvolver a produção de alimentos seria a África.

Investidores estrangeiros - alguns representando governos, outros da iniciativaprivada - prometem levar infraestrutura para esses países, além de novas tecnologias, criar empregos e produzir não apenas para outros países, mas também para o consumo dos próprios africanos. Eles descobriram que governos mais pobres são obviamente os mais receptivos, oferecendo terras praticamente de graça. Um exemplo é o acordo entre o Quênia e o Catar, que permitiu o uso de 100 mil acres de terras africanas em troca do financiamento de um novo porto. Porém, muitos outros acordos foram fechados sem fazer tanto barulho.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.