Foto do(a) blog

O blog da Internacional do Estadão

Ataque a um vilarejo na República Democrática do Congo

Por Adriana Carranca, repórter especial

PUBLICIDADE

Por redacaointer
Atualização:

A partir deste domingo, 20, o Estado traz uma série de reportagens sobre a situação na República Democrática do Congo (RDC). No início de outubro, rebeldes atacaram o vilarejo de  Lwibo, na província de Kivu do Norte, na fronteira oriental da RDC.

PUBLICIDADE

Saiba como foi o ataque e veja imagens:

Geni Mungo viu os rebeldes chegarem de longe, pelo mato. Correu para casa para avisar os três filhos sobre o ataque, mas quando saíram, os rebeldes já estavam muito perto. Alcançaram primeiro seu marido, abatido como um bicho. Ela titubeou por um instante, mas sabia que não poderia salvá-lo.

Os moradores tentavam escapar na direção do rio, imaginando poder fugir para o outro lado e sumir na mata densa. As crianças, àquela altura haviam alcançado a ponte frágil de madeira. Armados com facões, os rebeldes cortaram as cordas.

Geni viu os corpos das duas filhas serem arrastados pela correnteza de outubro, mês das chuvas. Forjou com o caçula um esconderijo sob folhas de bananeira e ali ficaram até cessarem os gritos. Minutos e tudo estava acabado.

Publicidade

O grupo liderado por um homem chamado Cheka saqueou e botou fogo nas palhoças, depois fugiu levando consigo quatro dezenas de crianças que estavam na pequena escola da vila no momento do ataque. Os meninos serão feitos soldados; as meninas usadas para cozinhar e prestar outros serviços, inclusive sexuais.

Butinda também perdeu a filha para a correnteza. Com a neta em um pano nas costas, ela procurava seu corpo vagando pelas margens. Os três meninos conseguiram escapar. A menina caiu no rio e desapareceu na água.

[galeria id=7985]

É assim que se morre no Congo (antigo Zaire). Em quase duas décadas, os confrontos no leste do país deixaram algo como seis milhões de mortos. É o maior e mais sangrento conflito desde a Segunda Guerra Mundial, fez mais números de vítimas do que todas as guerras recentes somadas. Mas pouco se ouve falar sobre ele porque ocorre na mata densa dos pulmões de um continente esquecido, a África.

Em outras reportagens da série, você vai conhecer um pouco mais da vida das mulheres no país, das crianças que viram soldados, os refugiados e as doenças acarretadas pela pobreza.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.