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Brasileira descreve drama do tremor no Japão

Por Eduardo Roberto

Por redacaointer
Atualização:

Saphyra Amaro, de 25 anos, cursa mestrado na Universidade de Tóquio e estava no centro da capital japonesa quando foram sentidos os primeiros tremores desta sexta-feira. O estadão.com.br conversou com a estudante por volta das 5 horas no horário local do Japão (17 horas em Brasília). Ela relatou o pânico dos japoneses que estavam em Tóquio com o terremoto de magnitude 6,9 que atingiu a região nordeste do país nesta sexta.

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"Senti o primeiro tremor por volta das 15 horas. Eu tinha acabado de chegar na estação Shinbashi, aqui em Tóquio, e ia subir no Yurikamome (espécie de monotrilho aéreo), quando sentimos os tremores. Eu estava perto das catracas e começou um barulho muito alto, as coisas caindo... Então fecharam o monotrilho e quem estava na estação se abaixou. Quem estava dentro dos trens, depois dos tremores, teve que ir andando pelos trilhos estilo 'corda-bamba', que são muito altos, até a estação mais próxima.

Eu estava na rua durante a réplica, dava pra ver os semáforos tremendo, construções e tal. Tirei umas fotos da confusão na frente da estação de Shibuya, por volta das 19 horas, e a região onde fica a estação ainda estava muito congestionada. O tremor tirou tudo do lugar no meu quarto, foi tudo para o chão, quase todos meus pratos quebraram.

Até agora o elevador do dormitório está desligado. Umas meninas, duas brasileiras, que estavam na Embaixada da China, no Tokyo Tower, voltaram andando também, e como estavam cansadas, perguntaram se poderiam vir para o nosso dormitório. Agora elas estão lá na sala do segundo andar, tentando dormir.

O pessoal daqui saiu correndo pra fora do prédio e ficou lá fora. Daí eu voltei para casa andando, que fica a uns 8 quilômetros de distância onde eu estava, por que o trânsito parou, não tinha transporte público nem táxi. Todo mundo voltou para casa a pé.

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A gente ficou sem celular e sem internet. Eles [os serviços] aos poucos foram voltando, primeiro a internet e depois todas as operadoras, menos a Softbank, que é a mais nova e a única que suporta iPhone. Essa voltou há muito pouco tempo, por volta das 22 horas (10 horas em Brasília).

Eu não estou acompanhando nada direito porque estou muito cansada. Só vou ler amanhã (sábado) tudo o que aconteceu hoje. Estou tensa por que moro no 6º andar de um dormitório para estudantes de intercâmbio, então balança mais. Ainda está balançando, de 5 em 5 minutos. Às vezes mais forte, às vezes mais fraco.

Várias lojas fecharam. Mas em compensação, lojas de conveniência e outras que vendem comida ficaram abertas encheram de gente, com enormes filas. Quando eu passei na loja de conveniência perto daqui, quando eu estava voltando já não tinha quase nada. O pessoal está estocando [comida]. Como parou tudo, não vai ter reabastecimento em supermercados. Não é pela gravidade do terremoto em Tóquio, é mais pelo congestionamento mesmo, os caminhões de entrega não chegam.

Isso cria um clima insegurança, por que a gente não está acostumado com terremoto no Brasil. A primeira impressão que eu tive, quando eu vi essa corrida absurda pra comprar comida, é que o pessoal estava exagerando, fazendo compra pro mês. Eu cheguei aqui no Japão em abril de 2010 e já tinha sentido tremores, mas esse foi o primeiro que derrubou coisas no chão.

O dormitório aqui é de estrangeiros, a maioria asiáticos, e ninguém fala muito de outra coisa a não ser o terremoto. Teve muita gente que, como eu, veio de lugares distantes andando e está cansada. A gente está meio ilhado aqui. Não tem o que fazer, não tem como ir pra outro lugar. Neste sábado teríamos uma festa aqui, mas foi cancelada.

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O que me assusta é que o epicentro não foi em Tóquio, mas só com isso eu senti o quanto a gente é vulnerável. Não sei quantos graus nas escalas Shindo ou Richter foram em comparação à província de Miyagi naquela hora, mas só com isso ficamos horas sem celular, algumas horas sem internet e um dia praticamente inteiro sem transporte público, congestionamento, etc. E eu não estou morando no interior da África ou do Brasil, não estou num país em desenvolvimento. Estou numa das maiores cidades do mundo, um país de primeiro mundo, tecnologia de ponta, e, mesmo assim..."

Texto atualizado às 8h12 de 14/03/11.

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