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Infestação de coelhos ameaça ilha onde Mandela ficou preso

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Por Luiz Raatz
Atualização:

Caçador segura coelhos abatidos. Foto: Reprodução/The New York Times

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A histórica prisão da ilha de Robben, no litoral da Cidade do Cabo, onde o ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela passou 18 de seus 27 anos preso, tem enfrentado problemas com a superpopulação de coelhos. Administradores começaram a matar os animais para controlar o número de roedores na ilha, declarada patrimônio da humanidade pela Unesco e que recebe diariamente 1,2 mil visitantes.

Desde outubro, os administradores têm recorrido a caçadas noturnas para abater os coelhos. Até agora 5,3 mil animais já foram mortos, junto com 78 cervos e 38 gatos selvagens, abatidos por acidente. Os caçadores estimam que seja necessário matar mais 8 mil, informou o "The New York Times".

Os animais foram introduzidos na ilha por colonizadores holandeses no século XVII para servir-lhes de alimento. Ao longo dos anos, o número de coelhos, conhecidos pela rapidez com a qual se reproduzem, havia se mantido mais ou menos estável. Com o fechamento da prisão e sem demanda por alimento, a espécie adquiriu status de peste. Os coelhos começaram a cavar buracos sob os prédios históricos e a consumir boa parte da vegetação da ilha.

Os coelhos se reproduzem com muita rapidez. Aos três meses, a fêmea entra em idade reprodutiva. Ela gera ninhadas de 8 filhotes até seis vezes por ano. "Eles literalmente comem tudo que seja verde", explicou Allan Perrins, presidente da Sociedade de Proteção aos Animais da região ao "The New York Times".

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Em um primeiro momento, houve relutância por parte dos administradores da ilha em recorrer ao sacrifício dos animais. Desde a libertação de Mandela, em 1990, a ilha se tornou um símbolo. Simplesmente matar os coelhos não parecia apropriado. Esforços não-violentos foram testados, mas nenhum funcionou.

Primeiro cogitou-se levar os coelhos para o continente, mas a ideia foi descartada após avaliar o estrago potencial que uma espécie introduzida e sem predadores poderia fazer em terra firme. Depois, os administradores pensaram em capturá-los e aplicar-lhes injeções letais, mas os pequenos roedores se mostraram extremamente difíceis de serem capturados. A caça foi, então, o recurso adotado.

A medida tem provocado pouca resistência, mas ativistas pelos direitos dos animais dizem que a estratégia evoca o espírito do apartheid. "Robben é um lugar sagrado. Uma matança ali é inapropriado, sujo e imoral", disse Cicely Blumberg, uma advogada que milita pelo direito dos animais.

"Ninguém é a favor do derramamento de sangue na ilha de Robben, mas os coelhos estavam ameaçando prédios histórico, precisávamos fazer alguma coisa", contestou Perrins.

A caçada não é simples. Dois homens percorrem a ilha de bicicletas e lanternas em busca dos coelhos. Quando conseguem fazer os animais parar, atiram. "Não posso dizer que é divertido. Mas me sinto bem. É um trabalho de preservação. Eles não pertencem a este lugar", disse o caçador Chris Wilke.

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Para fazer a caçada aparecer menos cruel, os administradores da ilha decidiram doar a carne dos coelhos abatidos para os pobres.

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