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Jogo de videogame mostra o Brexit como um pesadelo e desperta críticas no Reino Unido

Narrativa traz personagem que perdeu a nacionalidade britânica e é obrigado a atender às exigências de um governo autoritário para poder continuar no país

Por Redação Internacional
Atualização:
Uma das telas do videogame Not Tonight, de Tim Constant. O jogo foi lançado em meados de agosto e traz uma Inglaterra pós-Brexit, desencantada e xenófoba. Foto: Daniel LEAL-OLIVAS / AFP

LONDRES - Um "Deus Salve a Rainha" com ar fúnebre e imigrantes em acampamentos fazem parte de "Not Tonight", um videogame britânico lançado em meados de agosto. A narrativa traz uma Inglaterra pós-Brexit sem encanto e xenófoba, à imagem e semelhança das preocupações de seu autor.

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"Tenho a impressão de que estamos indo direto para um precipício e ninguém tenta pisar no freio. O videogame responde a esse sentimento", explicou o criador do jogo, Tim Constant, de 40 anos.

O jogo independente foi desenvolvido por uma pequena equipe de três pessoas, durante 18 meses e dá vida a um guarda-costas que acabou de perder sua nacionalidade britânica. Assim, o personagem se vê obrigado a aceitar todo tipo de trabalho para atender às exigências cada vez mais rigorosas de um governo autoritário, cujo lema é "trabalhem duro, não procurem problemas e então talvez nós os deixemos ficar no Reino Unido". A ideia é verificar as identidades dos personagens da história com alguns cliques e autorizá-los ou não a entrar em uma boate ou bar e, mais tarde, no país.

"Normalmente, política e videogame não se misturam, por medo que possa gerar rejeição entre os jogadores", afirma Constant. Mas para o fundador da Game in Society e professor de ciência política em Paris, Olivier Mauco, a mistura pode resultar em algo positivo. "É uma experiência que te faz viver em uma Grã-Bretanha distópica", disse, acrescentando que a tomada de decisões "tem um impacto, porque se compreende as consequências".

Sem imparcialidade

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O jogo está entre os rankings Top 10 das melhores plataformas de download. No Steam, desde que foi lançado, Not Tonight tem sido bem recebido e muito elogiado. No entanto, isso não impediu que houvessem críticas. "Muitos de nós, jogadores, estamos cansados de ver agendas políticas se misturando com nosso passatempo favorito", disse um jogador de nome Drakhor.

Diretor criativo do videogame Not Tonight, Tim Constant acredita que o jogo possa fazer com seus usuários pensem mais a respeito das consequências do Brexit. Foto: Daniel LEAL-OLIVAS / AFP

"Este jogo me interessa, mas não vou gastar dinheiro em favor da propaganda esquerdista", afirmou o usuário Progeria Pete. Desde o início, a narrativa exibe seu posicionamento pró-União Europeia, e perde a capacidade de surpreender ou gerar dúvida sobre suas intenções. "Se mostrar abertamente não é algo tão forte. Isso vai reforçar as posições de quem é a favor ou contra o Brexit, e o risco é que parte do público se desentenda", afirma Mauco.

Mas tal risco não assusta Constant. "Eu sabia que haveria rejeição em torno deste tema", admitiu. Para ele, a polarização poderia ajudar os jogadores a "refletirem um pouco mais sobre a situação". E o Brexit já teve consequências muito reais para a pequena equipe que o desenvolveu. "O autor dos gráficos é polonês e acabou de voltar para a Polônia devido à incerteza sobre o que vai acontecer" no Reino Unido, contou Constant.

Not Tonight atualmente está disponível em inglês para PC em plataformas de download por cerca de 15 euros. Seu lançamento para consoles é esperado para o início de 2019. / AFP

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