O que mudou em Cuba com Raúl Castro: uma década de reformas
As principais reformas na ilha comunista implementadas desde que o irmão mais novo da família Castro assumiu o poder, em 2006
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Por Redação Internacional
Atualização:
Atualmente, um cubano pode viajar com menos restrições, trabalhar por conta própria e ver a bandeira oficial dos Estados Unidos tremulando em Havana. Em dez anos, Raúl Castro conquistou uma transformação silenciosa da Cuba que recebeu de seu irmão Fidel.
A ilha é outra desde que Raúl, o general discreto do Exército, sucedeu Fidel à frente do governo. Perto de completar 90 anos, o líder máximo da Revolução cubana teve que entregar o poder depois de quase meio século, devido a uma doença.
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Desde então, Raúl, de 85 anos, empreendeu reformas de alto impacto que se inscrevem no que chama de atualização do modelo socialista. A seguir, algumas das mais importantes:
-Degelo O capítulo mais espetacular da era de Raúl foi escrito em 17 de dezembro de 2014. Na ocasião, anunciou pela televisão aos cubanos - enquanto Barack Obama fazia o mesmo com os americanos - a aproximação com o inimigo da Guerra Fria. Em 20 de julho de 2015, após mais de meio século, os dois países retomaram relações diplomáticas, e em março deste ano Raúl recebeu Obama no Palácio da Revolução.
-Migração Em 2013, Raúl Castro eliminou os caros e complicados requisitos de viagem, e autorizou os cubanos a deixar o país por até dois anos - desde que façam isso de forma legal - sem perder seus bens ou residência. A reforma facilita as visitas e repatriação daqueles que migraram. Em 2012, antes das mudanças entrarem em vigência, 213.927 cubanos viajaram ao exterior. Em 2015, o número chegou a 580.117, um aumento de 172%, segundo dados oficiais. Apenas os médicos necessitam de uma permissão especial para deixar a ilha.
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-Trabalho privado Castro ampliou e flexibilizou o trabalho privado. Meio milhão de cubanos trabalham atualmente por conta própria, 10% de uma força de trabalho de cinco milhões. Ao mesmo tempo, o governo estuda a legalização de pequenas e médias empresas privadas, eliminadas em 1968.
-Limites do mandato Após 48 anos de governo de Fidel, Raúl e o Partido Comunista de Cuba limitaram a dez anos (dois mandatos de cinco) o limite de permanência em um cargo. Raúl já anunciou que deixará o poder em 2018.
Novos tempos em Cuba
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Cubanos acessam sinal de internet em um dos 35 pontos de Havana que têm Wi-Fi; apesar de ter sido reduzido, preço é muito alto Foto: REUTERS/Enrique de la Osa
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Muro com slogans em frente à Embaixada dos EUA, na Tribuna Anti-Imperialista Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Prédio da Embaixada dos EUA em Havana Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Cubanos consertam carro americano dos anos 50 no bairro Romerillo, em Havana Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Jornal que está no Museu da Revolução; com data de 4 de janeiro de 1961, anuncia a decisão dos EUA de romper relações com Cuba Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Carros dos anos 50 que funciona como táxi em Havana; várias pessoas tomam o mesmo veículo, que faz um trajeto definido ao custo de US$ 0,40 Foto: Cláudia Trevisan/ESTADÃO
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Grupo de turistas passeia em antigo carro conversível em Havana. Para americanos, visitar Cuba é uma verdadeira "viagem no tempo" Foto: Alejandro Ernesto_EFE
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É cada vez mais comum a presença de turistas americanos em Havana, atraídos por construções antigas e carros clássicos que ainda circulam pelas ruas Foto: Alejandro Ernesto / EFE
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Altar onde Papa Francisco rezará a primeira missa em território cubano Foto: Alejandro Ernesto / EFE
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A retomada das relações entre EUA e Cuba está permitindo a entrada de navios de cruzeiros e elegantes iates de luxo no território cubano Foto: Desmond Boylan / AP
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Preparativos para receber o Papa em Havana começam a mudar a fachada da capital. Pontífice chega à cidade no dia 19 de setembro Foto: Alejandro Ernesto / EFE
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Turistas caminham em Havana e desfrutam de uma autêntica "viagem no tempo" Foto: Alejandro Ernesto / AP
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Segurança caminha ao lado do iate americano Still Waters, atracado na marina Hemingway, em Havana Foto: Desmond Boylan / AP
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Grupo de turistas visita uma feira de livros em Havana. Muitos americanos querem visitar a ilha para saber o que mudou em 50 anos Foto: Alejandro Ernesto / AP
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Trabalhadores cubanos constroem altar para a visita do Papa Francisco Foto: Alejandro Ernesto / EFE
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Cachorro com fantasia em desfile de Carnaval em Santiago. Festividade deve atrair mais turistas a cada anoapós a retomada das relações com os EUA Foto: Alejandro Ernesto / EFE
-Investimento estrangeiro O governo de Castro reformou uma lei para dar mais incentivos aos investidores e inaugurou o mega porto de Mariel (45 km a oeste de Havana), uma zona franca criada para se tornar o principal polo industrial de Cuba.
-Dívida externa No final de 2015, Cuba conseguiu renegociar sua dívida com 14 países do Clube de Paris, congelada desde os anos 1980, com um perdão de US$ 8,5 bilhões. A ilha, que em troca se comprometeu a pagar US$ 2,6 bilhões em 18 anos, espera com isso conseguir acesso a créditos frescos. Também reestruturou suas dívidas com Rússia e México.
-Comércio Raúl autorizou o comércio de carros e casas. Até 2014, foram registradas a compra e venda de 80 mil veículos e de 40 mil casas, segundo as autoridades. O ainda incipiente setor imobiliário representou um alívio para o déficit habitacional, e contribuiu para o desenvolvimento de pequenos negócios.
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-Internet O governo permitiu, embora restrito, o acesso à internet. Até junho operavam no país 125 zonas Wi-Fi, 665 salas de navegação e mais de 3 milhões de linhas de celulares.