A comida é escassa, os preços estão disparados, há protestos todo dia e o apoio popular já não é o mesmo, mas os analistas questionam como o governo de Nicolás Maduro consegue sobreviver à pior crise econômica e política na Venezuela em décadas.
Maduro conta com muito pouco do que Hugo Chávez - seu mentor político - teve, começando pelo valor do petróleo (que caiu 50% em seus dois primeiros anos de gestão). Para Maduro, tampouco as pesquisas são positivas: sete em cada dez venezuelanos reprovam seu governo, segundo a empresa independente Datanalisis.
Saiba quais são seus trunfos para se manter no poder:
- Controle militar e institucional
Maduro deve parte de sua sobrevivência política ao controle institucional que o chavismo exerce no comando dos militares ativos ou aposentados, que ocupam 10 dos 30 Ministérios, incluindo os de Defesa, Agricultura e Habitação.
O governo "tem o controle das instituições e mantém uma relação muito próxima e muito forte com os militares", diz Luis Vicente León, analista e presidente da empresa Datanalisis.
A oposição prega que o poder de Maduro vai além dos quartéis e se estende à Justiça e ao órgão eleitoral do país, vitais na atual conjuntura em que se apresenta o referendo revogatório. Salvo o Legislativo, o chavismo tem uma presença dominante nos demais poderes públicos.
- Uma oposição que não apaixona
Marcado por um passado de divisões e derrotas eleitorais, a oposição venezuelana vive seu melhor momento em 17 anos de chavismo. Após conquistar a maioria parlamentar, impulsiona o revogatório.
No entanto, é uma oposição fraturada que dificulta conectar-se com as massas, segundo León. "Não há uma liderança concreta que possa ser amada pelas massas ou os faça se apaixonar pela mudança", agrega.
Reunidos na Mesa da Unidade Democrática (MUD), os inimigos políticos de Maduro estão de acordo sobre a importância de destituí-lo e de buscar reformas econômicas imediatas, mas no resto dos temas, existem divisões importantes.
- O núcleo fiel
Maduro nunca será como Chávez, repetem analistas dentro e fora da Venezuela para ilustrar as diferenças entre o pai e o filho político. "O presidente Maduro não é nem sombra em termos de popularidade nem credibilidade, nem tem a capacidade para solicitar à população que adiem gratificações, porque é muito mais instável", comenta León.
Apesar disso, segue explorando a retórica e a figura de seu antecessor, assim como a fidelidade do setor firme do chavismo.
O chefe de Estado atribui os males que se acumulam na Venezuela a uma "oposição golpista" junto com o "império" e a "direita internacional", que buscam sufocar o governo em uma "guerra econômica".