BUENOS AIRES - O papa Francisco recebe no Vaticano na manhã deste sábado, 27, o presidente argentino, Mauricio Macri, em uma audiência aguardada por seu peso político local que marcará o início de uma nova etapa na relação entre os dois Estados e os dois líderes argentinos. Durante os oito anos em que foi prefeito de Buenos Aires, Macri teve uma relação apenas cordial com o então arcebispo Jorge Mario Bergoglio.
Além disso, desde a vitória do candidato do Cambiemos no segundo turno disputado em novembro, o pontífice não o felicitou, o que foi interpretado por kircheneristas como uma forma de Francisco desaprovar o resultado da votação - que terminou com a derrota de Daniel Scioli, candidato apoiado pela ex-presidente Cristina Kircher.
A Santa Sé, no entanto, nega tal interpretação e diz que o papa não o fez porque "não é parte da tradição que um pontífice mande mensagem nesses casos". "O papa, diante de eleições que são celebradas em diversos países, não pode se pronunciar em nenhum caso e, segundo a tradição, não há (o envio) de mensagens ou telegramas", afirmou ainda em novembro o monsenhor Guillermo Karcher, funcionário da Secretaria de Estado da Santa Sé ao jornal argentino La Nacion.
Francisco, de origens peronistas, foi fotografado ao lado de Cristina em várias ocasiões durante a campanha eleitoral e teve seu nome e sua imagem citados por Scioli em muitos atos de campanha numa tentativa de se consolidar como o "candidato do papa". Na semana que antecedeu a votação, o marqueteiro de Macri, o equatoriano Jaime Durán Barba, disse que o líder católico "não mudava o voto nem de dez eleitores", uma declaração que foi depois desautorizada por Macri.
Entre os assuntos delicados que devem ser discutidos pelos dois está a prisão da líder social Milagro Sala, presa na Argentina em um polêmico caso judicial e cujo trabalho é valorizado por Francisco, que enviou para ela um rosário abençoado.
Francico, que tem priorizado a doutrina social da Igreja em seu papado, também deverá reiterar seu pedido para que Macri coloque em prática políticas que combatam principalmente a pobreza e a desigualdade no país.
A audiência deste sábado ocorrerá na biblioteca particular do papa a portas fechadas, mas deve servir para acabar com as especulações da suposta distância entre os dois líderes. Depois, o pontífice também receberá a comitiva que acompanhará Macri, incluindo a mulher do presidente, Juliana Awada, e a chanceler argentina, Susana Malcorra.
Ao termino do encontro, o mandatário argentino será recebido pelo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Pietro Paolin, como previsto pelo tradicional protocolo da Santa Sé. / COM AFP