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Paris remove cadeados de casais apaixonados de ponte do século 19

Prefeitura começa a remover mais de 45 toneladas e um milhão de cadeados fixados na Pont des Arts, monumento histórico tombado que sofria riscos estruturais em razão do peso; casais lamentam

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Por Redação Internacional
Atualização:

Andrei Netto, correspondente / Paris

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PARIS - A prefeitura de Paris começou nesta segunda-feira, 1.º de junho, a remover mais de 45 toneladas de "cadeados do amor" colocados por casais apaixonados ao longo dos últimos anos na Pont des Arts, uma das mais conhecidas passagens sobre o Rio Sena. A decisão foi tomada pela prefeitura, com apoio da Câmara de Vereadores, e leva em consideração razões estéticas e o risco ao patrimônio histórico. O peso do metal já estava provocando abalos na estrutura da ponte, diz a administração.

O ritual de prender um cadeado no gradil da Pont des Arts e jogar a chave no Sena, em sinal de "amor eterno", começou de forma espontânea, sem nenhuma campanha de estímulo da prefeitura. Ao longo dos últimos 10 anos, as grades foram sendo tomadas pelo metal, agregando um peso descomunal e não projetado pelos arquitetos Louis-Alexandre de Cessart, que idealizou a estrutura original entre 1801 e 1804, e por Louis Gerald Arretche, que refez a ponte entre 1981 e 1984. No ano passado, uma parte do gradil chegou a desmoronar pelo peso suplementar.

VÍDEO: Cadeados da Pont des Arts dividem opiniões em Paris

A remoção vinha sendo debatida havia mais de um ano e provocava controvérsia. A maior parte dos casais de visitantes considerava os cadeados da ponte, que se situa entre o Museu do Louvre, a Academia Francesa e a Ile de la Cité, como uma atração turística em si, reforçando o ar de romantismo de Paris. Muitos moradores da capital, por outro lado, advertiam que os mais de um milhão de cadeados presos às grades do parapeito não apenas representavam um risco aos próprios turistas e à ponte, mas também prejudicavam a estética da passagem, que tem vista privilegiada também para os barcos que trafegam pelo rio.

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Nos últimos meses as grades já haviam sido protegidas por tapumes de madeira para evitar que novos cadeados fossem instalados - além de servir para preparar o espírito dos apaixonados que visitaram Paris. Nesta manhã agentes municipais interditaram a passagem para que funcionários retirassem os gradis. Foi necessária a ajuda de guindastes, já que cada lâmina da grade pesa mais de 500 quilos. "Agora acabou mesmo", sentenciou o vice-prefeito de Paris, Bruno Julliard, justificando: "Várias centenas de milhares de cadeados foram presos a essa ponte, o que prejudicava a estética da construção, deteriorava sua estrutura e poderia provocar acidentes".

Entre os frequentadores, as opiniões divergiram. "Enfim a prefeitura reagiu", afirmou Hubert Dupont, aposentado e habitué da região. "A Pont des Arts e a Pont de l'Archevêché enfim vão ficar livres da poluição visual, e o Sena da poluição do metal atirado no rio". Para Zoé, uma jovem em visita a Paris, a decisão é "egoísta" e "precipitada". "Eu diria que estamos sendo dirigidos por máquinas, tamanha a inconsciência", esbravejou. Menos romântico, Augustin Legrand sugeriu que cada casal que acaba uma relação retire seu cadeado."Não haveria risco nenhum de sobrepeso na ponte", brincou.

No lugar dos cadeados, serão instalados por tempo limitado painéis feitos por artistas de street art, até que placas translúcidas substituam em definitivo as grades atuais. A prefeitura promete uma alternativa para o milhão de cadeados da ponte, de forma a simbolizar o romantismo dos casais.

Julliard quer manter a tradição da declaração de amor na Pont des Arts convidando os turistas a registrarem o momento com um selfie do casal, que pode ser colocado em um site específico criado pela prefeitura, o Love without locks (http://lovewithoutlocks.paris.fr) - um trocadilho no qual a palavra "locks" pode ser compreendida como "limites", "bloqueios" ou, claro, "cadeados". A administração até brinca com o assunto, sugerindo fotos de "french kiss" - como o beijo de língua é conhecido em inglês.

Porém, para a administração de Paris - e também de cidades europeias como Roma, Praga, entre outras -, o problema ainda não acabou. Cadeados estão sendo espalhados por outros gradis, como na Pont Neuf, em torno da estátua de Henri IV, e também na Pont des Archevêché, atrás da catedral de Notre Dame.

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