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Artigo: Trump, não sob nossa responsabilidade

Manifestantes se reunirão para enviar a mensagem muito clara: não concordamos e não permitiremos.

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Por Redação Internacional
Atualização:

Quando Barack Obama estava na presidência - lembre-se dos bons velhos tempos, há uma semana apenas, quando não acordávamos a cada manhã nos perguntando que nova atrocidade emanaria da Casa Branca - os republicanos ficavam furiosos com suas ordens executivas, que chamavam de "decretos unilaterais" e "apropriações do poder".

Como disse o senador Charles Grassley de Iowa em um discurso, "o presidente parece cada vez mais um rei que pretende substituir a Constituição". Que diferença faz uma semana!

Manifestação em Londres contra as ordens executivas de Trumo. Foto: EFE / FACUNDO ARRIZABALAGA

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Agora muitos republicanos estão quietos como um rato de igreja quando Donald Trump expede suas ordens executivas freneticamente, fazendo exatamente o que disse que faria durante a campanha, apesar de todos aqueles que se mostravam atentos: a implementação de um programa nacionalista branco, demonizando os negros nos cinturões de pobreza, os mexicanos na fronteira ou os muçulmanos do Oriente Médio.

A América de Trump não é a América; não a de hoje ou amanhã, mas a de ontem. A América de Trump é brutal, perversa, regressiva, tacanha e medrosa. Não existe esperança nela; não existe luz. É uma vasta extensão de escuridão e desolação.

Esta é uma visão dos EUA que muitas pessoas que vivem nele não podem tolerar e não tolerarão. É uma visão da América que levou os cidadãos americanos comuns a se opor de um modo sem precedentes. E nos dirigimos para a anarquia à medida que a população e o presidente se recusam a ceder.

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Trump não é apenas um racista compulsivamente mentiroso, apreciador de conspirações e semianalfabeto, mas também um workaholic narcisista que hoje detém o poder que lhe é conferido pela presidência. Quase impossível conceber uma combinação de características mais perigosa. Ele é o modelo do indivíduo desinformado e ídolo dos seguidores da Ku Klux Klan.

As pessoas já estão se sentindo soterradas por uma avalanche de danos e desespero nacionais. Mas os americanos não têm propensão a sofrer em silêncio. O período de luto no país acabou; o momento da ira e da oposição ativa só começou. Os dois maiores motivadores do ativismo eleitoral neste país são o desejo de mudança e o medo permanente. No caso de Trump os dois estão unidos.

A medida mais recente a instigar e indignar a oposição foi a decisão de Trump de "suspender por tempo indefinido a acolhida de refugiados sírios e proibir temporariamente a entrada nos Estados Unidos de cidadãos vindos de sete nações predominantemente muçulmanas", segundo editorial do The New York Times.

Absurdo. A proibição é absurda e inconstitucional, além de caótica e prejudicial aos interesses dos EUA no âmbito da segurança nacional.

Como The Times observou no sábado: "desde os atentados de 11 de setembro de 2001 ninguém foi morto nos Estados Unidos em um ataque terrorista por alguma pessoa que emigrou para este país ou cujos pais emigraram, proveniente da Síria, Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão e Iêmen, os sete países visados na proibição de 120 dias, segundo Charles Kurzman, professor de sociologia na Universidade da Carolina do Norte".

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O editorial prossegue: "A lista dos países é aleatória: exclui Arábia Saudita e Egito, países de onde provêm os fundadores da Al-Qaeda e muitos outros grupos jihadistas. Exclui também o Paquistão e o Afeganistão, onde o extremismo persistente e décadas de guerras produziram militantes que ocasionalmente chegaram aos Estados Unidos. O interessante é que a lista não inclui países muçulmanos onde Trump tem grandes empreendimentos.

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Além disso, como a CNN informou no domingo, na noite de sexta-feira o Departamento de Segurança Interna decidiu que as restrições "não se aplicavam aos possuidores do green card - permissão de residência permanente".

Mas, ainda de acordo com a CNN, "A Casa Branca anulou a diretiva da noite para o dia, segundo autoridades próximas de Trump. Essa ordem veio dos assessores do presidente Stephen Miller e Steve Bannon".

Sim, Steve Bannon, que foi recrutado para a campanha de Trump, deixando seu cargo de presidente executivo do Breibart News e hoje principal estrategista do presidente, aquele que disse a Mother Jones em julho que "somos a plataforma da direita alternativa". Direita alternativa é simplesmente um eufemismo hábil usado hoje quando se faz referência aos nacionalistas brancos, sejam eles separatistas, supremacistas ou mesmo nazistas.

Além disso, como The Wall Street Journal reportou no domingo, Trump trouxe Bannon para o Conselho de Segurança Nacional e, ao mesmo tempo, removeu o diretor da inteligência e o chefe do Comando Conjunto do Exército. Algo escandaloso. O que sabe Bannon sobre segurança nacional? É preocupante o fato de, neste reino de intolerância, Bannon ser o cérebro e Trump o executor; Bannon é o presidente espiritual e Trump, o envoltório espúrio.

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Ditadura. Os EUA não tolerarão isso, de modo que, se os servis políticos conservadores ou os covarde liberais não resistirem como se deve a este ditador demagógico, então a sociedade americana se incumbirá da tarefa.

Durante o fim de semana, manifestantes espontaneamente se reunirão nos aeroportos em todo o país para enviar uma mensagem muito clara: não em nosso nome; não concordamos e não permitiremos. Se ninguém vai lutar pelos valores americanos, então cabe ao povo americano defendê-los. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

É JORNALISTA

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