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VISÃO GLOBAL: Os mitos sobre o sonho americano

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Por redacaointer
Atualização:

Pesquisa indica que, para muitos, dinheiro e casa própria não são tudo e o importante é ter bom emprego e felicidade

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MICHAEL F. FORD THE WASHINGTON POST

As metas de vida de um americano médio não são aquelas que estudiosos acreditavam que fossem. Vejamos:

1. Enriquecer. Numa pesquisa de âmbito nacional, realizada entre mais de 1.300 adultos em março, apenas 6% dos americanos colocaram a "riqueza" como primeira e segunda definições do sonho americano. Quarenta e cinco por cento mencionaram em primeiro lugar "uma vida boa para a minha família", enquanto 34% citaram "segurança financeira" - o conforto material que não é necessariamente sinônimo da riqueza de Bill Gates.

Embora o dinheiro faça indubitavelmente parte de uma vida boa, o sonho americano não se refere apenas ao dinheiro em si. Trinta e dois por cento dos entrevistados indicaram como o seu sonho a "liberdade"; 29% a "oportunidade"; e 21% a "busca da felicidade". Uma gorda conta bancária pode ser um meio para atingir esses fins, mas somente uma pequena minoria acredita que o dinheiro é um fim valioso em si.

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2. O sonho americano da casa própria. Em junho, uma pesquisa realizada por New York Times/CBS News concluiu que quase 90% dos americanos acham que ter uma casa é um aspecto importante do sonho americano. Mas apenas 7% dos entrevistados a colocaram como primeira e segunda definições do sonho americano. Por que tanta discrepância? Ter uma casa de fato é importante para alguns americanos, mas não tão importante como somos levados a acreditar. O governo federal facilita a compra da casa própria supervalorizando seu significado para a vida americana. Por meio de incentivos e garantias fiscais, ele incentivou a propriedade, que chegou ao pico em 2004, quando 69% das famílias americanas tinham se tornado proprietárias de uma casa.

Os subsídios para a compra da casa chegaram a US$ 230 bilhões em 2009. Como resultado dessa orgia de gastos com imóveis residenciais, o setor imobiliário americano perdeu mais de US$ 6 trilhões do seu valor, ou quase 30%, entre 2006 e 2010. Um em cada cinco proprietários americanos está no vermelho, devendo mais em hipotecas do que o valor real da casa.

Ter uma casa é mais importante para determinados interesses do que para a maioria dos americanos, que, segundo a pesquisa, se preocupam mais com "um bom emprego", "a busca da felicidade" e a "liberdade".

3. O sonho americano é a própria América. A expressão "sonho americano" foi cunhada em 1931 por James Truslow Adams em seu livro The Epic of America. Em plena Grande Depressão, Adams descobriu o mesmo otimismo que observamos na Grande Recessão dos nossos dias, e ele o denominou "o sonho americano" - "o sonho de uma terra na qual a vida será melhor, mais rica e mais plena para todos os homens, com oportunidades para todos, segundo sua capacidade ou realização". Mas o sonho americano é anterior a 1931. Já no século 16, colonos procedentes da Europa Ocidental chegaram a essa terra vencendo grandes perigos para construir uma vida melhor. Hoje, esse sonho é alimentado pelos imigrantes de vários países do mundo que ainda vêm em busca da mesma coisa.

4. A China ameaça o sonho americano. Nossas pesquisas revelaram que 57% dos americanos acreditam que, "hoje, o mundo procura entre vários países", e não apenas o nosso, "aquele que representa o futuro". Quando pedimos aos entrevistados que indicassem qual seria esta região ou este país hoje, mais de 50% escolheram a China. Cerca de 65% acreditam equivocadamente que a economia chinesa já é maior do que a dos EUA - quando na realidade corresponde a 33%, com uma população quatro vezes maior. Mas a China possui mais de US$ 1,1 trilhão em títulos da dívida americana; é o nosso maior credor.

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5. Declínio econômico e impasse político estão matando o sonho americano. Nossa pesquisa mostrou uma impressionante falta de confiança nas instituições americanas. Sessenta e cinco por cento dos entrevistados acreditam que os EUA estão em declínio; 83% disseram que confiam menos na "política em geral" do que há 10 ou 15 anos; 79% disseram que confiam menos nas grandes empresas; 78% disseram que confiam menos no governo; 72% falaram no declínio da confiança na imprensa.

Mesmo assim, 63% dos americanos disseram confiar que realizarão seu sonho americano, independentemente do que as instituições da nação fizerem ou deixarem de fazer. Embora eles possam temer pelas gerações futuras, seu sonho hoje se mantém vivo apesar de todas as dificuldades. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

É DIRETOR FUNDADOR DO CENTER FOR THE STUDY OF THE AMERICAN DREAM DA XAVIER UNIVERSITY

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