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VISÃO GLOBAL - Pegue o metrô

 

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Por João Coscelli
Atualização:

 

Se você acha que o aquecimento global é um embuste, sinto muito; haverá outros dois bilhões de pessoas por aqui em 2050, e elas vão querer viver e dirigir carros

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POR THOMAS L.FRIEDMAN, DO THE NEW YORK

Seríamos apenas eu e Fyodor Lukyanov, o editor do jornal Russia in Global Affairs. Ele escolheu o restaurante. Havia nevado naquele dia e o trânsito de Moscou - já quase inviável porque a cidade, que há 15 anos tinha 300 mil carros, hoje abriga quase quatro milhões de veículos registrados - estava ainda mais inviável que o usual. Logo começou a troca de e-mails entre nós. Eu fui o primeiro: "Vou atrasar alguns minutos". Lukyanov disse o mesmo alguns minutos depois. E aí eu de novo: "Vou atrasar 20 minutos". Ele viu então os meus 20 minutos e subiu mais 20. No fim, eu me atrasei 50 minutos e cheguei dois minutos antes dele. Nós fizemos uma entrevista corrida sobre a política externa russa em 30 minutos e eu tive de sair às pressas para não me atrasar no meu compromisso seguinte. Enquanto vestíamos nossos sobretudos, Lukyanov me deu um conselho, e não foi que os EUA deviam ficar fora da Síria.

Foi: "Tome o metrô". É bem verdade que o engarrafamento de Moscou não foi tão ruim como o de agosto de 2010, na autoestrada norte-sul de Pequim à Mongólia Interior. Declarado o mais longo da história do planeta, aquele se estendeu por 96 quilômetros, os carros moviam-se a uma velocidade de 3,2 quilômetros por dia, o trânsito levou 10 dias para desengarrafar e criou-se uma economia local de vendedores de macarrão.

Mas essa não é um a coluna sobre o tráfego - em si. É uma coluna sobre energia e meio ambiente e sobre por que não devemos deixar que o debate venenoso sobre mudanças climáticas nos enrede tal forma que fiquemos sem qualquer política energética, em particular sem uma política focada no desenvolvimento de usos muito mais eficientes dos recursos naturais com projetos e sistemas melhorados. Se você é dos que pensam que toda a ciência do clima é um embuste e não aceitam os dados de que nosso planeta está ficando mais quente e os oceanos estão subindo, sinto muito. Isso fica entre você e sua casa na praia - e seus filhos, cujo futuro você está colocando em risco.

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É melhor que acredite no seguinte: o planeta está ficando mais exaurido e mais povoado. Haverá outros dois bilhões de pessoas por aqui em 2050, e elas vão querer viver e dirigir carros como nós. E quando o fizerem, haverá um engarrafamento e uma nuvem de poluição monstruosos a menos que nós aprendamos a obter mais mobilidade, iluminação, aquecimento e resfriamento com menos desperdício - com tantas pessoas mais. Não podemos deixar que as guerras sobre o clima continuem a comprometer os esforços para termos uma política energética que eleve os padrões de eficiência para prédios, janelas, tráfego, habitação, embalagens e eletrodomésticos, que promova a inovação - que é a nossa força - no que precisa ser a próxima grande indústria global: a eficiência em energia e recursos naturais.

Esse é o tema de dois livros interessantes que saíram recentemente. O primeiro chama-se The Sixth Wave: How to Succeed in a Resource Limited World (A sexta onda: como triunfar num mundo com recursos naturais limitados, em tradução livre), de James Bradfield Moody e Bianca Nogrady. Moody, que trabalha na agência nacional de pesquisa da Austrália, e Nogrady, uma jornalista científica, argumentam que, desde a revolução industrial, tivemos cinco ondas longas de inovação - da energia hidráulica ao vapor, à eletrificação da produção em massa, até as tecnologias da informação e das comunicações. Eles argumentam que a sexta onda será a eficiência no uso dos recursos naturais - porque as populações crescentes, com apetites crescentes, acarretarão tanto um aumento da escassez de recursos naturais como mudanças climáticas, poluição e desperdícios perigosamente altos.

Isso nos obrigará a desacoplar o consumo do crescimento econômico. No passado, diz Moody, "quanto mais consumíamos, mais crescíamos". E, portanto, havia uma tensão entre "verde" e "ouro". Isso não pode durar, diz Moody. Quando se tem um mercado global, com uma população em crescimento, que enfrenta uma escassez crescente de recursos naturais e ainda tanto desperdício na maneira como fazemos e consumimos coisas "há uma grande oportunidade de mercado para a inovação". "Passaremos de verde contra ouro para verde igual a ouro", diz Moody.

Porque a única maneira de crescer sem consumir mais recursos é com inovações sistêmicas na eficiência - desenvolver novos modelos de negócios para proporcionar mobilidade, aquecimento, resfriamento e iluminação com recursos e poluição dramaticamente menores.

Eis um exemplo simples que o especialista em energia Hal Harvey usa: "Considere uma lâmpada incandescente padrão, acionada por uma usina de eletricidade a carvão. Se a usina a carvão tem uma eficiência de 33% (a média nos EUA), e a lâmpada, de 3%, a conversão líquida de energia para luz é de apenas 1%. Isso é patético - e típico. Uma luz LED (diodo luminoso) acionada por uma turbina a gás natural eficiente converte 20% da energia total em luz - um aumento de 20 vezes". Se for acionada por energias renováveis, então, há a vantagem adicional da redução das emissões de carbono.

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É aí que Amory Lovins, o físico que preside o Rocky Mountain Institute, começa seu novo livro: Reiventing Fire: Bold Business Solutions for the New Energy Era (Reinventando o fogo: soluções empresariais corajosas para a nova era energética, em tradução livre), que está resumido no número atual de Foreign Affairs. O Rocky Mountain Institute e suas empresas colaboradoras mostram como empresas privadas - motivadas pelo lucro e apoiadas por uma política inteligente - podem tirar os EUA tanto do petróleo quanto do carvão até 2050, com uma economia de US$ 5 trilhões, mediante a inovação com ênfase em projeto e estratégia.

"Não é preciso acreditar em mudanças climáticas para resolvê-las", diz Lovins. "Tudo que fizermos para aumentar a eficiência energética dará lucros, melhorará a segurança e a saúde, e estabilizará o clima."

É COLUNISTA

TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

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