PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

O blog da Internacional do Estadão

VISÃO GLOBAL: Uma Pyongyang mais imprevisível

Quebra de acordo com EUA é sinal de que norte-coreanos querem mais do que comida para frear programa nuclear

Por redacaointer
Atualização:

CHOE SANG-HUNTHE NEW YORK TIMES

PUBLICIDADE

As coisas tendem a se repetir de tal forma nas persistentes crises nuclear e de mísseis norte-coreanas que analistas e jornalistas com frequência brincam que, se pegassem suas matérias antigas e mudassem as datas, poderiam perfeitamente descrever o episódio mais recente. Essa sensação de déjà vu baixou sobre a Península Coreana nas últimas semanas. Neste mês, como ocorreu em abril de 2009, a Coreia do Norte lançou um foguete. Como em 2009, o Conselho de Segurança da ONU condenou o lançamento e pediu sanções mais duras. Como há quatro anos, a Coreia do Norte rejeitou "resoluta e veementemente" a censura do Conselho. Agora há um amplo temor de que a Coreia do Norte faça um teste nuclear, como fez em 2009. "A principal diferença entre 2009 e agora é que, naquela época, a Coreia do Norte agia como se soubesse exatamente o que estava fazendo sob a batuta de Kim Jong-il", disse Choi Jin-wook, do Instituto para a Unificação Nacional da Coreia, referindo-se ao líder norte-coreano que morreu em dezembro, deixando o governo para seu filho Kim Jong-un. A recente sequência de decisões de Pyongyang pode ter parecido confusa para muitos analistas, mesmo para padrões norte-coreanos. Primeiro o governo firmou um acordo com Washington em fevereiro para suspender testes de mísseis de longo alcance e depois deu prosseguimento a um lançamento de foguete na semana passada. O governo norte-coreano convidou jornalistas estrangeiros para o lançamento, mas ao fim acabou não o mostrando a eles. Diferentemente do caso de seus dois lançamentos de satélite fracassados que o governo insistiu que foram bem-sucedidos, desta vez Pyongyang admitiu a seu povo que o lançamento do foguete havia gorado. "Vejo confusão no regime", disse Choi. "Isso torna mais difícil entender a Coreia do Norte e torna a situação mais imprevisível. Ficamos tentando imaginar a quem Kim Jong-un ouvirá depois do lançamento do foguete. Se ouvir os militares, a Coreia do Norte com certeza adotará uma linha mais dura, realizando não somente um teste nuclear, mas também uma provocação militar contra a Coreia do Sul." Baek Seung-joo, do Instituto de Análises de Defesa da Coreia em Seul, observou que a declaração do Ministério das Relações Exteriores norte-coreano, condenando o Conselho de Segurança, não ameaçou explicitamente realizar um teste nuclear, nem renegou as conversações de desarmamento nuclear de seis nações. O fracasso do foguete deve ter desferido um grande golpe nos militares e eles podem ter perdido parte de sua influência no regime", disse Baek. A atenção está centrada agora em se a Coreia do Norte realizará um novo teste nuclear, possivelmente usando combustível do programa de enriquecimento de urânio que revelou recentemente. "Vamos ver a repetição do mesmo padrão: um lançamento de míssil seguido de um teste nuclear", disse Andrei Lankov, da Universidade Kookmin, em Seul. "O que poderia fazer a diferença é o provável uso de urânio altamente enriquecido no teste. Se for urânio e não plutônio, isso pode tornar o assunto todo bem mais perigoso do ponto de vista da não proliferação." Com efeito, uma bomba de urânio deixaria "claro por que eles deram um tapa no rosto de Tio Sam, rompendo um acordo recém-assinado", disse Lankov. "Eles querem mostrar que as paradas serão bem mais altas, por isso pedirão muito mais que meras 240 mil toneladas de ajuda alimentar", disse ele, referindo-se à assistência que Washington prometeu e depois suspendeu em função do lançamento do foguete. Lee Yun-keol, um biólogo norte-coreano que desertou para o Sul em 2006, escreveu num livro a ser publicado neste mês que físicos nucleares norte-coreanos devem fazer um novo teste nuclear porque o desenvolvimento da tecnologia da bomba atômica foi oficialmente reconhecido como "o último desejo" de Kim Jong-il, assim como foi o programa do foguete. Lee, que hoje chefia o Centro de Serviço de Informações Estratégicas da Coreia do Norte, uma organização privada de pesquisa, disse que o "desejo" do Kim que morreu circulou entre a elite norte-coreana como o poste de orientação de política de seu filho. Até agora, Kim Jong-un apoiou-se pesadamente na autoridade de seu pai para governar. "O desejo diz que se a Coreia do Norte não desenvolver armas nucleares e mísseis de longo alcance, ela viverá como escrava das grandes potências", disse Lee, citando fontes bem situadas não identificadas de dentro da Coreia do Norte. Vários analistas há muito vêm questionando a eficácia de sanções contra a Coreia do Norte. Alguns deles disseram que a China pode ter violado a resolução do Conselho de Segurança da ONU ao fornecer os veículos de lançamento de mísseis com 16 rodas que foram vistos numa parada militar em Pyongyang no domingo carregando um novo tipo de míssil. Ted Parsons, do IHS Jane's Defense Weekly, assinalou semelhanças com um conhecido veículo chinês: "O mesmo desenho de para-brisa, a mesma configuração de quatro limpadores de para-brisa, o mesmo desenho de porta e trinco, uma área de grade muito parecida, quase a mesma configuração de luzes no para-choque dianteiro e o mesmo desenho dos degraus da cabine." Ele acrescentou que o envolvimento de um construtor de veículos chinês "no programa de mísseis da Coreia do Norte requereria a aprovação dos escalões mais altos do governo chinês e do Exército de Libertação Popular". James Hardy, também do Jane's Defense Weekly, disse que, se for confirmado, o envolvimento da China romperia uma resolução do Conselho de Segurança de 2009 que proíbe suprir a Coreia do Norte de "quaisquer armas ou materiais afins ou fornecer transações financeiras, treinamento técnico, serviços ou assistência relacionados a essas armas." / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

É JORNALISTA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.