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'Abismo fiscal' se aproxima nos EUA enquanto políticos trocam acusações

Por THOMAS FERRARO E RICHARD COWAN
Atualização:

Alguns congressistas dos EUA expressaram no domingo a preocupação de que o país se depare com o "abismo fiscal" dentro de nove dias, o que provocará duros cortes de gastos e aumento de impostos, e alguns republicanos acusaram o presidente Barack Obama de ter isso como meta. "É a primeira vez que eu sinto ser mais provável que cheguemos ao abismo", disse à CNN o senador independente Joe Lieberman, do Estado de Connecticut. "Se permitirmos que isso aconteça, será o ato mais colossal e com consequências, de irresponsabilidade do Congresso, em um longo período, talvez o maior na história americana". "Parece que, obviamente, isto vai se arrastar até o próximo ano, o que vai prejudicar a nossa economia", declarou à CBS o senador republicano Bob Corker, do Estado do Tennessee. Os dois principais negociadores, Obama e o presidente da Câmara dos Deputados, o republicano John Boehner, estão fora da cidade para os feriados de Natal e não têm se falado. O Congresso está em recesso e terá apenas alguns dias na próxima semana para agir antes de 1o de janeiro. Nos programas de entrevistas na TV no domingo, ninguém indicou uma mudança de posição que poderia formar a base para uma solução de curto prazo, apesar de Obama ter sugerido na sexta-feira que poderia apoiar uma proposta. A partir de 1o de janeiro a redução de impostos, que remonta ao governo do presidente George W. Bush, vai expirar. Diante disso, o foco dos políticos terá de mudar. Em vez de focar no risco do "abismo fiscal", ele terão suas tarefas redefinidas, envolvendo apenas o corte de impostos, e não o aumento deles. "Eu acredito que nós vamos passar por cima do abismo fiscal", afirmou no domingo à Fox News senador republicano John Barrasso, do Estado do Wyoming. "Acho que o presidente está ansioso para ir para o abismo por razões políticas. Acho que ele vê uma vitória política no fundo do abismo." Alguns republicanos dizem que Obama receberia bem o aumento de impostos e cortes na defesa, pois isso seria uma oportunidade de culpar os republicanos por rejeitarem um acordo. Obama negou ter essa estratégia. Já os democratas acusam Boehner de ter motivos particulares para evitar um acordo antes de 3 de janeiro, quando os deputados eleitos em 6 de novembro tomarão posse e elegerão um novo presidente da Câmara. O senador democrata Charles Schumer, do Estado de Nova York, disse ao programa "Meet the Press", da NBC, que Boehner tem sido relutante em negociar um acordo por temer que isso lhe custe a presidência da Câmara, já que concorre à reeleição. "Eu sei que ele está preocupado", declarou Schumer. Boehner, que até agora não tem nenhum concorrente sério para o cargo, disse que não está preocupado com isso. Essa troca de acusações está em curso desde a eleição de novembro, mas se intensificou nos últimos dias. A questão do abismo fiscal está pendente no Congresso desde agosto de 2011. A ameaça de corte de 600 bilhões de dólares em gastos públicos e de aumento de impostos contrapõe a Casa Branca e o Senado, liderados por democratas, à Câmara dos Deputados, de maioria republicana, e que tentam aprovar um plano de alívio fiscal para a maioria dos norte-americanos e de eliminação de gastos do governo federal. Economistas dizem que os duros aumentos de impostos e cortes no orçamento poderiam empurrar a maior economia do mundo de volta à recessão, a menos que o Congresso atue rapidamente para impedir isso. MERCADOS O impacto mais imediato poderia ocorrer nos mercados financeiros, que têm estado relativamente calmos nas últimas semanas, enquanto republicanos e democratas negociavam, mas poderiam desabar se não houver perspectivas de um acordo. Os mercados estarão abertos por meio período na véspera de Natal, quando não haverá sessão no Congresso, e permanecerá fechado na terça-feira. Wall Street vai retomar a negociação de ações na quarta-feira, mas o volume deverá ser pequeno ao longo da semana por causa das férias de muitos participantes do mercado. Se o Congresso não chegar a qualquer acordo, as taxas de imposto de renda vão subir para quase todos os norte-americanos em 1o de janeiro. Os benefícios para desempregados, que os democratas esperavam prorrogar como parte de um acordo, também vão expirar.

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