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ANÁLISE-Negociação de livre comércio EUA-UE promete recompensas e armadilhas

Por ALAN WHEATLEY
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As futuras negociações comerciais transatlânticas podem oferecer um novo incentivo para a Europa se preocupar um pouco menos com a proteção dos ganhos econômicos passados e se concentrar um pouco mais em garantir fontes de prosperidade futura. As negociações, anunciadas na semana passada e que devem começar em junho, também são uma importante oportunidade para a União Europeia rejuvenescer os laços políticos com os Estados Unidos, no momento em que Washington se volta para uma Ásia em ascensão. As conversas serão difíceis. Sucessivas tentativas de premiar mercados abertos ao longo dos últimos 15 anos fizeram alguns progressos, mas acabaram falhando. Desta vez, amplas consultas convenceram autoridades de que um acordo pode ser forjado a um custo político menor. Uma razão é que a agricultura, um entrave constante para os negociadores, é um pesadelo bilateral menor do que era há dois anos, graças a mudanças no mercado global para produtos agrícolas, disse Fredrik Erixon, diretor do Centro Europeu para Economia Política Internacional, um instituto de Bruxelas. Além disso, as duas maiores economias mundiais estão ansiosas para acessar novas fontes de crescimento. Elas estimam que até 2027 um pacto abrangente poderia adicionar 0,5 por cento ao ano para o Produto Interno Bruto da UE e 0,4 por cento para a produção dos EUA. No entanto, a crença em Bruxelas e Washington de que eles não terão que atravessar muitos limites de negociação impostos por poderosos interesses será rapidamente testada, afirmou Erixon. "Vai ficar muito mais claro que você não vai obter um acordo que pode oferecer ganhos econômicos de curto e médio prazos ou ganhos dinâmicos de longo prazo, a menos que você esteja disposto a fazer as reformas do lado da oferta", disse ele. UE PODERIA MELHORAR NAS REFORMAS De fato, Erixon disse que a Comissão Europeia, braço executivo da UE, vê as negociações como uma oportunidade para tentar avançar com algumas mudanças profundas, em busca de um melhor desempenho econômico do bloco de 27 países. Os governos têm demonstrado maior apetite por reforma, em resposta à crise financeira global, mais especificamente na previdência e no trabalho. No entanto, Ben Noteboom, presidente-executivo da Randstad, segunda maior empresa mundial de recrutamento global, afirmou que iria dar à Europa uma nota geral inferior a seis, de um máximo de 10. Ele disse que a Europa não tinha escolha a não ser manter o ímpeto de reforma, levando em conta os desafios que enfrenta com o envelhecimento da população e, especialmente, com o esvaziamento de empregos semi-qualificados devido à evolução tecnológica e concorrência dos mercados emergentes. "Como sociedade temos de encontrar respostas para evitar que isso se torne um problema social e econômico", disse Noteboom à Reuters. "A questão é se vamos fazê-lo rápido o suficiente. Nós não temos muito tempo." Os Estados Unidos e a União Europeia buscam um acordo do "século 21" que, além de eliminar tarifas, remova muitas barreiras não-tarifárias, como diferenças de normas técnicas, que são obstáculos irritantes em uma era em que as mercadorias vindas de todo o globo atravessam fronteiras em velocidade vertiginosa. No entanto, no início deste mês, a mesma UE mostrou sua cara de século 20 através da conclusão de um orçamento para o período 2014-2020 em que os subsídios agrícolas ainda ocupam, de longe, a maior parte das despesas. Auxílios agrícolas foram cortados, mas a França e outras importantes nações agrícolas frustraram as tentativas de transferir uma fatia maior das despesas da UE para medidas que impulsionam o investimento e competitividade. Uma falha semelhante deve ocorrer nas negociações de comércio dada a relutância da UE em baixar a guarda contra a biotecnologia alimentar dos EUA, como plantas geneticamente modificadas ou carne bovina com hormônios. Portanto, mesmo se houver boa vontade para deixar essas questões de lado, a agricultura ainda tem potencial de envenenar as negociações, afirmou Philip Whyte, do Centro para a Reforma Europeia, uma empresa de pesquisa, em Londres.

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