A menção de uma carta póstuma do senador Ted Kennedy, o maior defensor da reforma de saúde no Congresso, representou o momento mais emotivo no discurso do presidente de EUA, Barack Obama, aos legisladores sobre esta medida. A carta, segundo explicou o líder americano, a escreveu Kennedy em maio, após saber que seu tumor cerebral tinha entrado na fase terminal, e deixando instruções que não se entregasse até sua morte, ocorrida no mês passado.
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Perante a presença da viúva do senador, Victoria, que acudia como convidada da primeira-dama, Michelle Obama, e que não pôde reprimir a emoção, e dos filhos deste, Obama revelou que na carta o senador descrevia a reforma de saúde como "o grande assunto por resolver da nossa sociedade". "O que afrontamos é um assunto moral, não estão em jogo só detalhes de política, mas princípios fundamentais de justiça social e o caráter de nosso país", leu o presidente americano, que fez da reforma sanitária sua grande prioridade legislativa. Em sua carta, Kennedy expressava sua confiança de que a medida finalmente sairia este ano.
Após o discurso de Obama, que tinha como objetivo reviver a reforma estagnada no Senado, a Casa Branca tornou público o texto íntegro da carta, na qual o legislador, conhecido como "o leão do Senado", assegura que conseguir cobertura sanitária acessível e de qualidade para todos os americanos "foi a causa da minha vida".
Íntegra:
"Ao senhor Presidente:
Queria escrever-lhe umas palavras finais para expressar-lhe meu agradecimento por sua reiterada bondade pessoal comigo e, pela última vez, para saudar sua liderança que devolveu a nosso país seu futuro e sua verdade.
Em nível pessoal, o senhor e Michelle se comunicaram com Vicki, com nossa família e comigo de tantas formas diferentes. O senhor ajudou que estes meses difíceis fossem um momento feliz da minha vida.
O senhor também fez com que sejam um momento de esperança para mim e para nosso país.
Quando pensei em todos os anos, todas as batalhas e todas as lembranças de minha longa vida pública, senti a confiança que nestes dias finais e em que, embora eu não esteja aqui quando ocorra, o senhor será o presidente que, finalmente, sancione a lei de reforma da saúde que é o grande tema não concluído em nossa sociedade.
Para mim, esta causa se prolongou décadas; foi decepcionante, mas nunca finalmente derrotada. Foi a causa da minha vida. E no último ano a perspectiva de uma vitória me manteve e o trabalho para alcançá-la me deu energia e determinação.
Haverá batalhas, sempre as houve, e novamente estão em curso. Mas à medida que avançamos nestes meses, aprendi a não escutar as chamadas a retroceder e a saber que o senhor se manterá com a causa até que se triunfe.
Vi no senhor a convicção que o momento é agora e fui testemunha de seu compromisso e conhecimento que o atendimento médico é um tema decisivo para nossa futura prosperidade. Mas o senhor também nos lembrou a todos que tem a ver com mais que coisas materiais, que o que afrontamos é um assunto moral, que não estão em jogo só detalhes de política, mas princípios fundamentais de justiça social e o caráter de nosso país.
E também devido sua visão e resolução, cheguei ao convencimento que em breve, muito em breve, todos disporemos de uma cobertura de saúde acessível, em um EUA onde o estado da saúde de uma família não dependa nunca da riqueza dessa família.
E embora não verei a vitória, pude olhar ao futuro e saber que sim, cumpriremos nossa promessa que o atendimento médico nos EUA é um direito, não um privilégio.
Por último, me permita manifestar-lhe novamente o orgulho que senti de ser parte de sua campanha assim como por haver feito parte nos primeiros meses de uma nova era de grandes propósitos e conquistas. Ingressei na política com um jovem presidente que inspirou a uma geração ao mundo. Me proporciona uma grande esperança o fato de que ao ir-me, outro jovem presidente inspire a outra geração mais uma vez, em nome de EUA, inspire a todo o mundo.
Em fim, lhe escrevo para agradecer-lhe uma última vez como amigo e para apoiá-lo mais uma vez pela mudança e o país em que nos podemos transformar.
Na Convenção de Denver na qual o senhor foi designado candidato a presidente, eu disse que o sonho seguia vivo.
Termino esta carta com a inquebrantável fé que o sonho irá se concretizar para esta geração e se preservará e aumentará para as próximas gerações.
Com profundo respeito e sincero afeto,
Ted."