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CENÁRIOS-Opções de Obama para a guerra no Afeganistão

Por ANDREW GRAY
Atualização:

O presidente dos EUA, Barack Obama, está diante de decisões cruciais sobre o Afeganistão depois que o principal comandante norte-americano e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) disse que a guerra seria perdida a menos que mais soldados fossem enviados para seguir uma estratégia com mudanças radicais. A avaliação do general do Exército norte-americano, Stanley McChrystal, não diz, porém, quantas tropas adicionais ele quer. Esse pedido virá em um outro documento que McChrystal já preparou, mas ainda não apresentou ao governo Obama. Quando McChrystal fizer a sua solicitação, Obama terá de decidir se apoia totalmente seus comandantes militares, se acata os pedidos vindos do seu próprio Partido Democrata para que não envie mais soldados ou se tenta encontrar um meio-termo aceitável às duas partes. Em uma entrevista à televisão ABC exibida no domingo, Obama se descreveu como um "ouvinte cético (...) alguém que está sempre fazendo perguntas difíceis sobre o envio de tropas." Washington tem 65 mil soldados no Afeganistão e o número deve chegar a 68 mil ainda este ano. Outros países, principalmente os aliados da Otan, têm cerca de 38 mil soldados na região. Abaixo estão alguns caminhos possíveis de ação que Obama poderia seguir: RETIRADA Alguns analistas e comentaristas argumentam que as forças dos EUA deveriam se retirar do Afeganistão e parar de investir uma grande quantia de recursos na construção do país e na luta contra os militantes do Taliban. O influente colunista conservador George Will expressou apoio a essa opção neste mês, argumentando que os EUA deveriam "fazer apenas o que puder ser feito de longe." Mas é muito improvável que Obama adote essa abordagem, ao menos agora. Obama se comprometeu em março com uma estratégia mais ampla, e com recursos, de contrainsurgência. O secretário de Defesa, Robert Gates, rejeitou a noção de que a guerra poderia ser lutada à distância e disse que a possibilidade de retirada militar dos EUA estava fora de questão. CONTINUAR NA MESMA Obama poderia decidir manter o número de soldados norte-americanos em por volta de 68 mil. Esse número representa um aumento de cerca de 36 mil desde o início do ano e o governo poderia decidir que precisa de mais tempo para avaliar como sua estratégia está indo antes de fazer mudanças. Esta opção parece altamente improvável, pois McChrystal deixou claro que quer mais soldados e seria difícil para o governo não fornecer ao menos parte dessas forças. AUMENTO MODERADO O governo poderia decidir acrescentar entre 10 mil e 15 mil soldados para fornecer maior poder de combate e aumento do treinamento das forças afegãs. Com a insurgência ainda forte no sul, a retomada de terreno no leste e progressos em outras partes do país, esse número deve ser considerado agora pelos oficiais militares como o mínimo necessário. Outras brigadas --entre 6 mil e 10 mil soldados-- poderiam ser consideradas necessárias. Esta opção provocaria certa oposição entre legisladores democratas, mas ainda seria aceitável ao menos para alguns deles, especialmente se o governo disser que muitos dos soldados adicionais ficarão concentrados no treinamento das forças afegãs. GRANDE AUMENTO Alguns analistas afirmam que a guerra no Afeganistão ainda tem poucos recursos, apesar do aumento da tropa neste ano, e precisa de um grande incremento nas forças militares, diplomatas, especialistas em auxílio humanitário e dinheiro. Anthony Cordesman, do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos, que aconselhou McChrystal, sugeriu que talvez seja necessário entre três e nove brigadas adicionais --até 45 mil soldados adicionais. Além de politicamente difícil em casa, isso também preocuparia as autoridades dos EUA de que mais afegãos percebessem as forças dos EUA e a Otan como ocupadores hostis, com uma presença muito grande. Gates manifestou essa preocupação, embora afirme que aceita o argumento de McChrystal de que as percepções dos afegãos serão influenciadas mais pelo comportamento dos soldados do que pela quantidade deles. Um aumento dessas proporções parece provável. Mas o tamanho do aumento dependerá, em parte, da solicitação de McChrystal e da avaliação do próprio Obama sobre a situação no Afeganistão e sobre o cenário político dos EUA. MAIS TREINAMENTO Qualquer que seja a opção escolhida por Obama, é provável que ela seja acompanhada por um esforço renovado para aumentar o tamanho e a qualidade das forças de segurança no Afeganistão. Muitas autoridades percebem isso como a "estratégia de saída" no longo prazo --uma forma de permitir que as forças da Otan e dos EUA deixem o país. A avaliação de McChrystal pede para que o Exército afegão seja expandido para 134 mil soldados até outubro de 2010, em vez de dezembro de 2011, como o planejamento corrente. Ele também diz que a força deveria crescer para 240 mil soldados. Atualmente, há por volta de 92 mil soldados no Exército do Afeganistão. McChrystal também pede a ampliação da polícia afegã, que passaria de 84 mil para 160 mil homens, "o mais cedo possível."

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