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Com medo e frustrados, latinos evitam o Censo nos Estados Unidos

Por ESTEBAN ISRAEL
Atualização:

Os latinos são a maior minoria dos Estados Unidos, mas podem perder a chance de exibir sua musculatura política, já que milhões deles devem evitar o recenseamento nacional. Uma parcela expressiva dos chamados "hispânicos" está em situação irregular e teme que o preenchimento do formulário do Censo, que tem dez perguntas, aumente o risco de eles serem deportados. Outros relutam em participar por estarem frustrados com a demora do governo de Barack Obama em promover uma reforma da imigração. Uma pesquisa do Pew Research Center mostrou que um terço da população latina dos Estados Unidos nem ouviu falar do Censo de 2010, um projeto de 14 bilhões de dólares que pretende mapear a população naquele país. "Eu diria que mais de 50 por cento da comunidade latina não vai participar do Censo", disse o ativista de origem peruana Juan Carlos Ruiz, da Federação Latina da Grande Washington. "O problema é que ao não participar vamos perder uma grande oportunidade do ponto de vista político, econômico, social e até cultural", disse Ruiz, que em 2006 ajudou a organizar grandes passeatas de imigrantes. Estima-se que os Estados Unidos tenham cerca de 50 milhões de latinos, mas sua subrepresentação no Censo pode dificultar o acesso a verbas federais para suas comunidades, o que se traduziria em mais professores, hospitais e outras benfeitorias. Além disso, distritos com grande população latina poderiam ganhar mais representação na Câmara dos Deputados. Mas em Mount Pleasant, bairro fortemente latino-americano de Washington, muitos moradores clandestinos dão respostas vagas ao falar com estranhos, mantendo o olhar vigilante. Esperando em uma esquina para ser levado para o seu local de trabalho, o operário salvadorenho da construção civil José Ricardo, de 35 anos, disse não ver razão no Censo. "Acho que não vou fazer. Os políticos nunca fazem nada por nós." No fim de semana passada, dezenas de milhares de pessoas se reuniram perto da Casa Branca para lembrar ao presidente Barack Obama que ainda esperam o cumprimento da promessa de reforma na imigração, fator que levou muitos latinos a apoiá-lo na eleição de 2008. A deportação é um temor constante para milhões de imigrantes clandestinos nos Estados Unidos. A "remoção" de trabalhadores ilegais cresceu 23,5 por cento no ano fiscal de 2008, chegando a quase 357 mil casos, segundo dados oficiais. A reforma da imigração, tentada sem sucesso pelo ex-presidente George W. Bush, pode oferecer um caminho para a legalização de cerca de 10,7 milhões de pessoas, sendo 80 por cento delas latinas.

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