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Economia e imagem dos EUA marcam 100 dias de Obama

Segundo analistas, presidente americano se aproveitou de alta popularidade para impor mudanças no país

Por Bruno Accorsi
Atualização:

Em seus primeiros cem dias à frente da Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama conciliou ações diversas para tentar sanear a economia com inúmeras medidas voltadas para resgatar a imagem do país perante o mundo. No campo econômico, o líder americano implementou um plano de estímulo econômico de US$ 787 bilhões e ofereceu ainda injeções bilionárias de capital para resgatar instituições financeiras.

 

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Obama também procurou desmantelar o legado de seu antecessor, George W. Bush, com ações como o anúncio do fechamento da prisão de Guantánamo, em Cuba, o fim do uso de técnicas severas de interrogatório de prisioneiros - inclusive com a divulgação de memorandos sobre essas práticas - e o reconhecimento de que emissões de CO2 precisam ser contidas. Neste período inicial, o novo presidente prometeu reduzir a maior parte do contingente militar baseado no Iraque até 2010 e encerrar as missões de combate americanas no país em definitivo até 2011. Em contrapartida, ele deslocou mais 21 mil soldados para o Afeganistão, país que atualmente parece muito mais volátil que o Iraque e cujo conflito vem se alastrando para o vizinho Paquistão. Popularidade alta Para a analista Erica Williams, do instituto de pesquisas Center for American Progress, o presidente procurou tirar o máximo de proveito dos primeiros meses de seu mandato. ''Ele assumiu tendo pela frente uma série de desafios e compreendeu que teria uma janela muito curta pela frente, então procurou tomar o máximo possível de iniciativas enquanto sua popularidade permanece em alta. A principal marca de Obama se deu na economia, com as várias medidas que ele tomou para estabilizar o país'', afirma. William Galston, ex-assessor do governo Bill Clinton e perito em Estudos de Governança do Brookings Institution, de Washington, disse à BBC Brasil que o presidente americano deu início a ações ''em uma frente muito ampla, tanto nacional como internacionalmente''. Mas, no entender de Galston, ''Obama não teve escolha se não se concentrar na abalada economia do país, mas também levou em conta que o povo americano estava muito incomodado com a deterioração da imagem do país no exterior. Os americanos gostam de ser queridos, ainda que muitas vezes não façam um bom trabalho''. Uma das alterações na imagem americana oferecida pelo atual líder dos Estados Unidos se deu na mudança de tom em relação ao Irã. Ao arqui-rival outrora descrito como um dos integrantes do ''eixo do mal'', Obama ofereceu a possibilidade de diálogo e até se dirigiu à população do país, através de um vídeo. Críticas As diferentes ações do líder americano na economia renderam também inúmeras críticas de representantes da oposição americana. Muitos republicanos afirmaram que ações como a de intervir sobre as empresas automotivas GM e Chrysler representaram indícios de que o país caminhava para o socialismo. ''A partir de agora é que vamos começar a ver os resultados concretos das medidas tomadas nos cem primeiros dias. Mas a oposição vai tirar proveito de qualquer coisa que não funcione ou que não se encaixe em sua filosofia econômica'', comenta Erica Williams. A analista acredita que os próximos grandes testes de Obama serão o de implementar um programa de seguro saúde eficaz, trazer as tropas americanas de volta do Iraque com êxito e encontrar uma política eficaz para o Oriente Médio. William Galston diz que ainda estamos nos estágios iniciais. "Ele ainda precisa descobrir como vai fazer para conter a deterioração do Paquistão, para lidar com um Irã que parece ávido em obter armas nucleares e para reavivar o processo de paz do Oriente Médio que está quase morto e como realizará grandes projetos de investimento em infra-estrutura e educação.'' Pesquisas como a divulgada nesta semana pela rede CBS e o jornal The New York Times mostram que Obama segue com elevado índice de popularidade - um total de 68% dos americanos diz estar aprovando o trabalho do presidente, o que representa a maior média de um líder americano na história recente do país. A popularidade de George W. Bush nesta fase era de 56%. Para William Galston, é improvável que a opinião pública americana se volte contra o presidente de forma significativa, ainda que a situação econômica do país custe a ser contornada. Curiosamente, o analista compara o atual momento de Obama com a de um presidente que, com seus ideais altamente pró-mercado e radicalmente antiestatistas, representaria o extremo oposto do líder atual. ''Vejo Obama na mesma situação em que Ronald Reagan se encontrava nesta fase, quando ele teve que navegar um mar de problemas econômicos. O país, nos anos 80, estava em profunda recessão e a economia só começou a tomar jeito no terceiro ano do mandato de Reagan, mas a população continuou a demonstrar confiança no presidente, porque sabia que não havia alternativa viável.'' Mas, acrescenta William Galston, ''se a recessão ou a ausência de crescimento continuarem até meados do terceiro ano da gestão Obama, as dúvidas em relação a ele ficarão mais acentuadas. Mas ele ainda tem tempo para que a coisa funcione. E os fatores conspiram a favor dele''.

 

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