EUA querem nomear premiê afegão para conter Karzai

'Guardian' diz que descontentamento com presidente gerou proposta de criação de novo chefe do Executivo

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Por Agências internacionais
Atualização:

Os Estados Unidos e seus aliados europeus querem criar o cargo primeiro-ministro no Afeganistão por conta do descontentamento com a gestão do presidente afegão, Hamid Karzai, por conta da corrupção e da incapacidade de governo do líder. Segundo afirma a edição desta segunda-feira, 23, do jornal britânico The Guardian, a criação de um posto para um novo chefe do Executivo ou com papel de premiê pretende reduzir o poder de Karzai e propor que a verba arrecadada pelo governo seja repassada diretamente às províncias.

 

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Segundo o jornal, muitos funcionários europeus e americanos expressaram sua decepção com a corrupção e a incompetência que atribuem ao governo de Karzai. Além disso, o Ocidente não vê nenhuma outra alternativa e acredita que o presidente será reeleito nas eleições de agosto deste ano. O Guardian afirma que os EUA e os europeus querem revisar as atribuições de Karzai, o que será discutido durante a conferência sobre o Afeganistão, prevista para 31 de março em Haia, na Holanda, para a qual Irã e Paquistão foram convidados.

 

"Karzai não está cumprindo. Se temos que seguir apoiando seu governo, este terá que funcionar de modo adequado e garantir que os níveis de corrupção diminuam. Os níveis de corrupção no país são assustadores", afirmou um diplomata ao jornal. Outra fonte diplomática afirmou que são estudadas outras alternativas para a substituição de Karzai, mas que foram exploradas e descartadas porque nada poderia garantir que o resultado para o país seria "dez vezes pior".

 

A ideia de uma figura de alto posto Executivo trabalhando com Karzai seria uma das propostas da Casa Branca durante a revisão da estratégia para o Afeganistão. Obama deve falar publicamente nos próximos dias sobre detalhes do novo foco, inclusive sobre o novo papel do presidente afegão. Outras recomendações para a revisão do conflito no Afeganistão seria o aumento de soldados afegãos de 65 mil para 230 mil, assim como 80 mil oficiais de uma força policial; mandar mais civis americanos e europeus para a reconstrução da infraestrutura do país e aumentar o apoio ao Paquistão como parte da polícia para o persuadir no combate contra a Al-Qaeda e o Taleban no país.

 

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A proposta de um chefe do Executivo alternativo é apoiada pelos europeus. "É preciso descentralizar o poder", afirmou um alto oficial da UE. "Precisamos de alguém próximo de Karzai, um tipo de chefe do Executivo". Poder e dinheiro ficariam menos nas mãos dos ministros em Cabul e mais com oficiais e comandam o país fora da capital, nas províncias afegãs. "O ponto em que insistimos é que a hora agora é de promover uma nova divisão de responsabilidades, entre o poder central e os poderes locais", afirmou o oficial europeu.

 

No programa 60 Minutes exibido neste domingo, Obama confirmou que seu governo fará uma revisão da estratégia para o Afeganistão e o Paquistão - aliado-chave dos EUA na guerra contra o terror, mas que também enfrenta violência de militantes do Taleban -, com base nas recomendações de funcionários americanos de alto escalão e consultas com aliados.

 

Saída do Afeganistão

 

O presidente americano disse ainda no programa que as Forças Armadas não conseguirão, sozinhas, resolver a situação no Afeganistão e os Estados Unidos precisam ter uma "estratégia de saída" para suas tropas. "O que nós não podemos fazer é pensar que apenas uma abordagem militar no Afeganistão será suficiente para resolver nossos problemas", disse ele. "Então, o que estamos procurando é uma estratégia abrangente. E terá de haver uma estratégia de saída. Devemos entender que esta não é uma ação perpétua."

 

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O presidente americano explicou que, além da ação militar, seu governo dará uma ênfase maior desenvolvimento econômico do Afeganistão. Outra medida será melhorar a coordenação com o vizinho Paquistão, acusado de não fazer o suficiente para conter os grupos extremistas que atuam nos dois lados da fronteira. Obama também prometeu que terá uma maior coordenação com parceiros internacionais do que o governo anterior.

 

Obama tem paulatinamente mudado o foco das atenções militares americanas do Iraque para o Afeganistão, onde a violência cresceu ao nível mais alto desde o começo das operações americanas no país, em 2001. O presidente americano se reunirá com os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), entre os dias 3 e 4 em Estrasburgo, na França, onde apresentará uma revisão completa da estratégia para o Afeganistão. O número de soldados no Afeganistão deverá ser o principal tema de discussão. Obama quer enviar mais 17 mil soldados ao país, que se somarão aos atuais 36 mil.

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