O ex-embaixador dos Estados Unidos na ONU John Bolton criticou neste sábado a política adotada por seu antigo chefe, o presidente George W. Bush, em resposta às crises do Paquistão e seus esforços para deter o programa nuclear iraniano. Bolton considerou que a Casa Branca deveria apoiar sem reservas o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, para evitar que o arsenal nuclear desse país caia em mãos de radicais islâmicos. "Ninguém deve gostar do que está acontecendo no Paquistão, mas é preciso levar em consideração os interesses estratégicos dos EUA, que são assegurar que as armas nucleares estejam sob controle", disse o ex-diplomata no lançamento de seu livro "Surrender is Not an Option" ("Render-se Não é Uma Opção", em tradução livre). Bolton, que relata na obra sua experiência como embaixador na ONU entre agosto de 2005 e dezembro de 2006, considerou que Washington contribuiu para a atual instabilidade no Paquistão por não "apoiar suficientemente" o Governo de Islamabad. "Não defendo Musharraf, nem o que fez com (a ex-primeira-ministra paquistanesa) Benazir Bhutto, mas a história do Paquistão demonstra que não é seguro que um Governo civil possa manter o controle das armas nucleares", acrescentou o ex-diplomata. Bolton, que conta com influência na ala conservadora da política externa americana, ainda acusou o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed El Baradei, de fazer "apologia ao Irã" e ignorar as diretrizes do Conselho de Segurança. Considerou que a decisão de Bush de aceitar a proposta de seus aliados europeus de buscar uma solução diplomática ao conflito com o Irã "foi um fracasso", que deu quatro anos a Teerã para aperfeiçoar seu programa nuclear. Bolton reconheceu que a resposta iraniana a um ataque militar pode ser letal, mas afirmou que a perspectiva de o Irã possuir um arsenal atômico é ainda pior. "Os Estados Unidos têm de atuar em defesa de seus interesses estratégicos, mesmo que o custo possa ser alto. Mas seria mais alto se não defendesse seus interesses", argumentou o ex-embaixador, que afirma que a derrocada de Saddam Hussein no Iraque foi "uma vitória".
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